Famélico C/ interações de Jota Garcia e Fernando Cunha Lima ANTOLOGIA REVIVALISTA 2021

No território lúgubre da fome,

o humano ser, assim, em bicho feito,

às agruras da vida está sujeito.

Faz quase uma semana que não come!

Desfigurado espectro, sem nome,

procura na lixeira algum rejeito,

que, ali jogado, possa ter proveito,

em mitigar o vácuo que o consome.

Se encontra algum resquício de alimento,

acende o olhar, por ínfimo momento

e engole na maior sofreguidão.

E tanta gente, pela rua, passa,

sem se importar em ver a atroz desgraça,

do ser humano em luta pelo pão.

Honrosas interações de dois grandes poetas e amigos. Jota Garcia e Fernando Cunha Lima.

CADA UM POR SI

Em pleno século vinte e um,

Não se esperava ver tal imagem.

Até pra olhar me falta coragem,

De fitar a cena tão incomum.

A que nos levam dias de jejum.

Que a miséria existe todos sabem.

Sabem que é preciso agir, mas não agem,

Cada um por si e si por nenhum.

Ver alguém comportar-se como um bicho,

A procurar numa lata de lixo,

Algo para aplacar a sua fome,

É uma imagem de estarrecer.

É uma negação do compromisso

Daqueles que controlam o poder.

Jota Garcia

A FOME DO HOMEM

Trêmula pela lixeira a mão desce,

Busca na podridão uma migalha,

A sensação de vida, até lhe falha,

No oco da barriga que padece.

A cada dia a sua fome cresce,

Como uma praga sobre si se espalha,

Ela que a dor do mundo se equivalha,

Mas dele mais ninguém se compadece.

No olhar tão tristonho e moribundo,

Carrega em si as mazelas deste mundo,

Enquanto no lixão busca comida.

Nas sobras deixadas pelo homem,

Procura os nacos que lhe mata a fome,

Pedaços podres que lhes dão a vida.

Fernando cunha lima

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 04/07/2021
Reeditado em 03/09/2022
Código do texto: T7292667
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