TRILHA XXXVII- GUILHERME DE ALMEIDA
*DOR OCULTA*
Quando uma nuvem nômade destila
gotas, roçando a crista azul da serra,
umas brincam na relva; outras, tranquila,
serenamente entranham-se na terra.
E a gente fala da gotinha que erra
de folha em folha e, trêmula, cintila,
mas nem se lembra da que o solo encerra,
da que ficou no coração da argila!
Quanta gente, que zomba do desgosto
mudo, da angústia que não molha o rosto
e que não tomba, em gotas, pelo chão,
havia de chorar, se adivinhasse
que há lágrimas que correm pela face
e outras que rolam pelo coração!
Guilherme de Almeida
*FLORES DE LAVANDA*
Eu já não choro mais a ausência sua,
aquela dor tão forte está mais branda;
no início foi, qual sol na pele nua,
hoje é penumbra suave na varanda...
Por entre as tristes flores de lavanda,
insone, andei... Apenas eu e a lua;
rendi-me às dores que o destino manda
e a paz, de novo, aos poucos se insinua.
Até meu choro agora é mais contido...
apascentei meu coração ferido
nestas lembranças que hoje, tão singelas,
trazem de volta seu sorriso largo
e assim me esquivo do recordo amargo
do toque frio em suas mãos tão belas.
Edy Soares
*SEGREDO*
Algumas dores guardo, com cuidado,
no peito, a sete chaves, em segredo,
e reina um coração amargurado,
atrás do riso, atrás do rosto ledo.
Na face não escoa a cor do medo,
desbota-se a matiz do meu enfado,
mas sinto, nesta lida, que enveredo
por vales de um sofrer desmesurado...
Não basta o sofrimento que tortura,
ainda existe a triste desventura
de rir enquanto a dor me dilacera...
Quisera não viver tamanha sina,
gritar ao vento o mal que me alucina,
do cárcere livrar a minha fera!
Geisa Alves
*DESOPRESSÃO*
Tentando mitigar as minhas dores,
Penetro o labirinto de alma nua...
As pétalas no chão - Oh, mortas flores! -
São lágrimas da nuvem que flutua!
É como se eu perdesse o céu e a lua
Na oculta imensidão de dissabores
E o lúgubre desgosto continua
Nos versos com imagens incolores!
Meu peito, aprisionando a escuridade,
Sufoca-me de tanta ansiedade,
Lançando-me nas trevas do meu ser.
Exausto de chorar sozinho e mudo,
No instante que componho eu grito tudo,
Na crença inabalável de vencer!
Ricardo Camacho
*ENTRE LÍRIOS E MARGARIDAS*
A dor da despedida, tão profunda,
Em agudeza bebo, e o gosto amaro
Rasga meu peito e de tristeza o inunda...
- Órfã, de pai e mãe, em desamparo!
Dias de luta inglória, a qual declaro:
Mesmo sofrendo, em fase moribunda,
A paz do teu semblante, ao céu, comparo!...
Foste guerreira e santa! E a luz profunda
Resplandeceu em mim, na fortaleza
De resistir por ti, por nós... Certeza
Entregue às mãos de Deus, à hora prevista!
Amor que sobrevive às despedidas,
Partiste, ornada em lírios... margaridas!...
- Dorme, mãezinha, dorme... E até à vista!
Aila Brito
*DOCE ENLACE*
A lágrima de dor oferecida
A Deus como uma oferta intercessora
Amortiza os pecados desta vida
Pela graça divina redentora.
Às vezes, há barreira retentora
Que deixa presa a lágrima, contida.
Outras vezes, levada em adutora,
Extravasa com força a dor sentida.
Mas tanto aquela lágrima que cai,
Como a lágrima presa que não sai,
Regam nosso jardim das intenções.
Sendo seca ou molhando a nossa face,
Toda lágrima faz um doce enlace
Do amor de Deus em nossos corações!
Luciano Dídimo
*UM BOM CORAÇÃO*
Quando um bom coração, revelando seu pranto,
Faz da lágrima, nobre aliada ao saber,
Regenera o poder, inclusive no encanto,
De ter sua virtude entoada ao prazer.
Seu penar molha o chão e consegue embeber
A semente que jorra esperança ao recanto,
Renascendo na fé o sentido em crescer
Bem distante da morte, infiel acalanto.
Quando um pranto derrama alegria na terra
Encharcando um lugar que, cansado da guerra,
Vê na seca cruel, a maldade inclemente,
Recupera altivez ao recanto feliz
Numa paz cuja voz simplesmente nos diz
Que algum bom coração não chorou futilmente.
Plácido Amaral
*SOLIDÃO*
Observe o meu sorriso tão constrito,
jamais expõe a dor que me aborrece:
a solidão que, quer soltar um grito,
se cala, quando a boca faz a prece!
Abraços me ergueriam desse estresse,
trariam toda luz que necessito,
porém persiste o verso que entristece
e, aos poucos, verto o pranto do infinito...
O espelho mente, sinto que caçoa,
(dentro de mim enxergo outra pessoa):
palhaço triste sem o picadeiro!
Em meu viver, vigora um céu sombrio,
que fere a aurora - imenso desafio...
Disfarço, assim engano o mundo inteiro!
Janete Sales Dany
*ENFADO*
Fastio de saudade, anorexia,
De fases tão galantes decorridas,
Enquanto amores ternos eu vivia
No reino adolescente das queridas.
E foram elas, sim! As preferidas
Que me ofertaram tudo que eu queria;
Em berço de ouro, todas bem-nascidas,
Determinaram minha nostalgia.
A dor de amor se torna mais pungente
Analisando o tempo que, inclemente,
Consome a juventude e nossos sonhos,
E apenas tu, dulcíssima beldade,
Puseste a meu dispor a mocidade
Em troca destes dias tão tristonhos.
José Rodrigues Filho
*SORRISO DE PALHAÇO*
O mestre do sorriso pinta a face —
em breve pisará no picadeiro...
Por mais que a tal tristeza atroz o abrace,
inventa audaz sorriso verdadeiro.
Apaga do semblante carcereiro
as mágoas que provocam desenlace.
E busca — feito agulha no palheiro —
o viço verde-musgo, verde-alface...
Sem sorriso amarelo, a criançada
com aplausos traduz ser encantada
pela cena bizarra e os bate-papos...
E o palhaço gargalha (por ofício),
o sorriso no rosto virou vício —
maquiagem do espírito, em farrapos...
Elvira Drummond
*DORES OCULTAS*
A nuvem chega e aos poucos vai embora,
Ainda que se encontre carregada.
O mesmo ocorre àquele que não chora
A angústia que no peito faz morada.
Observo o dia triste, da sacada,
E o sentimento que me aflige agora
Jamais se expõe de forma escancarada:
Em modo muito mais sutil aflora.
Qual plúmbea flor que não desabrochasse,
O pranto preso, que não chega à face,
Machuca, mas com grande maestria.
E eu lanço mão das mágoas lacerantes,
Das tantas dores que não são flagrantes,
Tentando obter – quem sabe – poesia.
Gilliard Santos
*QUEIXAS*
Um rastro da servil idolatria
percorre os olhos tolos e fraquejo:
a madrugada algente me esvazia,
embala o despudor do rumorejo.
Alimentadas por algum sobejo
deixado nesta cama tão sombria,
palpitações imersas em desejo
às débeis queixas fazem companhia.
O desconsolo tanto até reprime
as reverências para o amor sublime
que, novamente em crise, ressuscito.
Ainda não refeito deste abalo,
depois de abandonado, pouco falo
e deixo fenecer latente grito.
Jerson Brito
*NOVOS DIAS*
Por dores passei, recordo e as exponho,
Sem pai e sem mãe, sozinho no mundo,
Que, então, se mostrou bastante medonho.
Na dor do viver, vivi moribundo.
E meu amargor, em cada segundo,
Jamais apagou a chama do sonho,
Porém, ao lembrar, confesso, eu me inundo
De dores febris, e fico tristonho.
Assim seguirei, com marcas, sequelas...
Mas sei que venci, busquei aquarelas,
Vivendo feliz, em dias sagrados.
Das fases ruins, restaram primores!
Foi quando aprendi os belos valores,
Pois temos que ser fraternos e honrados.
Douglas Alfonso