O AMOR ESTÁ NO CÉU - Coroa de Sonetos
Soneto-síntese
O amor está no céu bem estrelado,
Aonde a lua esplêndida passeia,
Melosa, qual casal apaixonado
Olhando um para o outro que lhe enleia;
Retrata o amor um mar calmo ou zangado.
Enquanto a nau navega ao léu, alheia,
Se existe uma tormenta e o céu nublado,
Tange as ondas, em fúria, para a areia;
Assim está o amor em toda parte,
No céu, no mar, no norte ou sul, ou na arte,
O amor em tudo está; na vida é a sorte.
Com ele a vida é mais, muito mais vida,
E faz a nossa vida mais florida.
Um sentir que transcende até a morte.
Parte 1
O amor está no céu bem estrelado,
Quando surgem só rosas no caminho,
E o objeto de culto está ao seu lado,
E o perfume do amor paira no ninho;
Tudo na vida é para o ser amado,
A maior atenção e o melhor vinho;
O tempo todo, para o seu agrado,
Mil carícias... Mil vezes seu carinho.
E enquanto a chama houver assim acesa,
Atiçada, o dia todo, em gentileza,
Na lareira, com duas brasas cheia,
E o culto sempre houver ao Deus sagrado,
O céu sempre estará muito estrelado,
Aonde a lua esplêndida passeia.
Parte 2
Aonde a lua esplêndida passeia
Espargindo sua bela claridade,
E a natureza, em sons, viva, chilreia,
Transmitindo a voz da Majestade,
O amor, em profusão, se banqueteia;
Tudo ali é muita festa e novidade,
E cheio de emoção o amor goteia,
Lá no apogeu, o orvalho da unidade.
O amor é festa, mas nem sempre brilha;
Às vezes a emoção vira uma ilha
Bem longe, longe de tudo habitado.
E de repente o céu fica sem graça,
E a lua nova, fica velha e passa,
Melosa, qual casal apaixonado.
Parte 3
Melosa, qual casal apaixonado,
Quais dois pombinhos, no melhor da festa,
Qual bando de gazelas pelo prado,
Na harmonia e silêncio da floresta;
Quais cisnes navegando, lado a lado,
Tão bem juntinhos, que não deixam fresta,
Assim é o amor no par enamorado
Coração a coração, Sim, testa a testa.
E da cumplicidade faz chover
Gotas do orvalho da fecundidade,
Que se entranha até o âmago do ser.
Depois de saciados, nessa ceia,
Extenuados, quedam-se, à vontade,
Olhando um para o outro que lhe enleia!
Parte 4
Olhando um para o outro que lhe enleia,
Passa o tempo lá fora, mas não passa
Este tempo tão bom... Foge à ideia...
É tudo muito mágico, só graça!
O que se diz ali, se romanceia,
Porque o amor envolve, entrelaça;
Embriagando, deixa a taça cheia...
O amor ergue em um brinde a mesma taça!
Como suave é o vinho, é a ressaca
Da experiência desse amor total,
Que o estresse da vida a mesma aplaca,
Mesmo na taça que exprime cuidado;
Onde há pouco equilíbrio com o sal,
Retrata o amor um mar calmo ou zangado.
Parte 5
Retrata o amor um mar calmo ou zangado.
Entre paredes, pelas entrelinhas,
Às vezes o amor fica minguado
Devido a criação de ervas daninhas;
Se se introduz ali coisas mesquinhas
E o mal fermento, o céu fica pesado;
Explodem, nas cabeças, as bombinhas
Radioativas, num clima fechado.
Mas se prevalecer logo o bom senso,
E o amor sair dali vitorioso
E suavizar aquele céu tão denso,
E se acalmar aquele mar que ondeia,
Haverá, novamente, o mesmo gozo
Enquanto a nau navega ao léu, alheia.
Parte 6
Enquanto a nau navega ao léu, alheia
Lá fora a vida é um louco frenesi;
Mas em meio a essa busca, que anseia,
Não pode haver o cada um por si.
Porque o amor é como uma cadeia
Que vai da divergência ao Convergir,
Ou qual, na escuridão, uma candeia...
Qual aquarela para colorir.
O amor converge ao claro, ao colorido
E faz o coração bater, fluir
Nas veias o bom sangue, bem nutrido.
Mas quando o exterior entra frustrado,
Há uma tendência de se se ferir,
Se existe uma tormenta e o céu nublado.
Parte 7
Se existe uma tormenta e o céu nublado
E os espinhos da rosa se mantém
Em riste, e o cravo está muito exaltado,
E ali se fala o que não se convém,
É a hora de acalmar o mar zangado;
É a hora de pedir ajuda a Alguém.
Alguém que no calvário foi pregado
Na rude cruz, por nós, por nosso bem.
Uma via de mão dupla é o amor.
Na reciprocidade, estende a mão.
Não se pode deixar o sol se por
Sem se afastar pra longe o que chateia,
Porque o não buscar logo o perdão,
Tange as ondas, em fúria, para a areia.
Parte 8
Tange as ondas, em fúria, para a areia
Que está diretamente ao seu redor:
Primeiro, a prole. Após quem lhe rodeia,
Família, amigos, todos sofrem dor,
Pelo bramir das ondas, maré cheia,
Todos se envolvem, por esse indispor,
E o volume só cresce, e nada freia
O agente da discórdia, o mau fator.
Cristo no centro faz a diferença;
Ainda que o tumulto seja intenso,
Ainda que ali haja muito ofensa,
Deus é amor, e o amor em Deus se reparte;
Ele faz convergir tudo ao bom senso.
Assim está o amor em toda parte.
Parte 9
Assim está o amor em toda parte.
Em alta, não humilha na peleja;
Em baixa, não se humilha nem rasteja,
Porque a nobreza é do amor o estandarte.
Em alta ou baixa, ou qualquer que seja
A possibilidade em que descarte
Aquilo que lhe leva ao céu, a Marte,
Aquilo que sua alma muito almeja,
O amor segue tranquilo e confiante,
Pois não se machucar no que é frustrante
É sua meta. El’ faz um aparte,
Desfaz o drama e renova a paz,
Porque presente sempre o amor se faz
No céu, no mar, no norte ou sul, ou na arte.
Parte 10
No céu, no mar, no norte ou sul, ou na arte,
O amor é tudo, o amor em si se atêm;
É belo, é altruísta, muito além
De tudo nesta vida; é a fina arte.
Dos sentimentos ele é o que mantém
Sempre o primor... O amor é obra de arte.
Faz chorar, faz sorrir, sempre com arte.
Nada vai conter o que ele contém!
Quando o amor ergue alto sua bandeira,
Não conhece limite, nem fronteira,
Nos mais extremos do sul ou do norte
Finca o pendão e monta o acampamento
E vive ali o seu melhor momento.
O amor em tudo está; na vida é a sorte.
Parte 11
O amor em tudo está; na vida é a sorte.
Mas quem deseja nesta vida amar,
Tem que primeiro ao outro se doar,
De tal maneira que não se importe
Aonde o seu amor vai lhe levar,
Se sentirá nos sonhos algum corte.
O amor suporta tudo; o amor é forte,
E sonhos mais reais há de alcançar.
O amor não está presente na orgia,
Porque o amor se nutre na grandeza;
Amar não é se dar em anarquia!
O amor é muito bom, mas na medida
Em que a taça transborde, com pureza.
Com ele a vida é mais, muito mais vida!
Parte 12
Com ele a vida é mais, muito mais vida,
Quando na vida a dois há o consenso.
E nunca prevalece o que “eu penso”,
E não se estabelece que “eu decida”;
Pois se existisse no amor esse “eu venço”,
Seria a parceria então perdida...
Será UMA CARNE assim, se é dividida?
Pois no amor só existe o “eu pertenço!”
A gentileza é a chave que abre tudo:
Por favor! Me desculpe! Eu te ajudo!
Obrigado, querido! Sim, querida!
As gentilezas são as mãos do amor,
Que nos revelam quanto é o seu valor
E faz a nossa vida mais florida!
Parte 13
E faz a nossa vida mais florida,
De flores mil a faz mais encantada
E em consequência muito perfumada,
Porque o amor é a flor que encanta a vida!
Cada astromélia, lírio, rosa, cada
Calêndula, orquídea, margarida,
Amor-perfeito... Cada flor convida
Ao culto do amor, com a paz sagrada.
O amor é como a flor: mesma harmonia.
Tão delicado, no seu dia a dia...
Precisa de cuidado, de suporte!
E dentro da harmonia, nesse encanto,
O amor é eternal, é puro e santo,
Um sentir que transcende até a morte.
Parte 14
Um sentir que transcende até a morte.
No amor não existe a morte; na esperança
O que partiu daqui, no amor descansa,
E quem aqui ficou, que o amor conforte.
E mesmo quando o tempo traz mudança,
Desse lado de cá, novo consorte,
O amor exibe o seu perfeito porte
E no devido tempo tudo alcança.
“O amor é paciente; tudo espera”.
Do austero inverno, à calma Primavera,
O amor não desespera, estagnado.
Pois apesar do caos, num mar que ondeia
E das ondas, em fúria, para a areia,
O amor está no céu bem estrelado.