SONETO METALINGUÍSTICO ALEXANDRINO

Soneto metalinguístico alexandrino falando sobre SONETO.

Encabeçando nossa lista, segue um soneto exemplar, do grande mestre Olavo Bilac _ fonte de inspiração para todos nós!

VANITAS

Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria,

Trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada,

E enche-lhe, a palpitar, a estrofe iluminada

De gritos de triunfo e gritos de agonia.

Prende a idéia fugaz; doma a rima bravia,

Trabalha... E a obra, por fim, resplandece acabada:

"Mundo, que as minhas mãos arrancaram do nada!

Filha do meu trabalho! ergue-te à luz do dia!

Cheia da minha febre e da minha alma cheia,

Arranquei-te da vida ao ádito profundo,

Arranquei-te do amor à mina ampla e secreta!

Posso agora morrer, porque vives!" E o Poeta

Pensa que vai cair, exausto, ao pé de um mundo,

E cai - vaidade humana! - ao pé de um grão de areia...

OLAVO BILAC , in "Poesias"

ALEXANDRINO: TRADIÇÃO NA PÓS-MODERNIDADE

É um ato de bravura e grande resistência

Tecer alexandrino em tempos atuais!

Soneto, por si só, já exige paciência!

Este gigante, então, há de exigir bem mais!

Na pós-modernidade, a nova consciência,

Renega a tradição de versos tão formais.

Do enorme desafio, precisa ter ciência,

Quem busca reviver antigas eras tais.

Debalde, um modernista aclama a sua morte.

Sobrevivendo sempre, e cada vez mais forte,

O velho Alexandrino é muito bom de briga.

A geração mais nova, ao descobrir-lhe a forma,

Entusiasmada segue, à risca, a rija norma.

E forja um verso novo, usando a fôrma antiga!

Fernando Belino

ALDRAVA

Dediquei-me a escrever um soneto perfeito,

no versar apliquei o desvelo e a beleza.

Com o luxo na rima e a cadência no jeito,

pretendi que tivesse a estrutura francesa.

À tarefa lancei o rigor e o respeito,

e o poema fluiu com formato e leveza.

Versejar transparente aflorou insuspeito,

encontrei-me no fim com a lâmpada acesa!

Mas rigor não se faz a excelência maior

nem se deve mostrar, do soneto, o suor,

sendo assim, se traduz o meu verso em aldrava,

que insistente ressoa a palavra de lei,

revelando o sentir que às estrofes deitei:

toda forma se faz da mensagem escrava!

Geisa Alves

O POETA, A DOR E O FRÁGIL SONETO

Conversando ora vou com meu frágil soneto

Relatando as cruéis amarguras da vida

Em que eu falo que a dor mais feroz concebida,

Certamente hoje está sendo meu amuleto.

Meu soneto, ao me ouvir no presente quarteto,

Paciente, me diz que essa dor tão doída

É causada talvez por paixão reprimida

Ou por erros no amar que nem sempre eu cometo.

Sou poeta que, justo, acredito no amor,

Mas que neste terceto, em franqueza e em rancor,

Dá ao frágil soneto a razão na questão...

Essa dor que machuca o meu ser sem cessar,

E que aqui, meu soneto, eu tentei te explicar,

É saudade daquela à qual dei o meu pão...

Plácido Amaral

SONETO ALEXANDRINO

Encanta um bom soneto – o alexandrino então,

que expressa com primor, beleza e fantasia,

eflúvios e sabor, doçuras e poesia...

Lê-se cada quarteto envolto na emoção!

Jamais fica obsoleto em nosso coração,

pois mostra o seu valor com arte e primazia

seja por onde for, bem antes e hoje em dia,

tem do poeta o afeto em prol da perfeição!

Soneto alexandrino exige muito esmero;

é igual pintar u’a flor com zelo e com cuidado!

Na poesia é hino, em colo é quase um ‘xero’!

É fruto com sabor, feijão bem temperado;

se o paladar é fino, agrada-lhe o tempero!

...É tela de um pintor que foi abençoado!

Ineifran Varão

Obs: *3 em 1, com os dois hemistíquios rimados,

formando dois sonetilhos.*

SONETO ALEXANDRINO

Soneto alexandrino, o excêntrico poema!

De criação francesa, assoma em sã beleza

Daí porque possui manto, cetro e diadema,

Em substância e em cor, por sua natureza!

Soneto alexandrino exige estratagema

Por parte do bom aedo, em hábil sutileza,

A fim de produzir, sem mácula e dilema,

O grão alexandrino em pompa e realeza.

O Machado de Assis, o bardo de áureo brilho,

Usou, em larga escala, o poema, que A. Castilho

O sistematizou no idioma português.

Gosto de trabalhar soneto alexandrino,

Em cada verso seu que soa genuíno.

De fato, grandioso é o soneto francês!

J. Udine Vasconcelos

OUSADIA DO SONETO

O soneto contém cadência...melodia,

ao som da rima tão versada na fonética,

feito a dança, flutua alegre e com estética

sobre a estrofe, em total enlevo: uma ousadia.

Alguns dizem: no feito - uma corça arredia -

a provocar a brisa em caçada hipotética,

requer arte e pendor, sem ter a mente cética,

se o poeta recusa, eis total covardia!

Não é fácil, por certo, aurir a alma do belo,

moldar a inspiração qual fossem amuletos,

pra conseguir, ao fim, uma escultura em verso.

Dois quartetos impõem a forma do libelo,

demonstrado, a seguir, coeso, em dois tercetos

que plasmam, com lavor, rimas em seu anverso

Basilina Pereira

SONETO ALEXANDRINO

Soneto Alexandrino: o "plus"da poesia,

quatorze versos de ouro em brilho e realeza.

Exige perfeição nas rimas. Que riqueza!

Dois hemistíquios cria o bardo, em estesia!

As sílabas são doze em cada verso... Amplia

O espaço à inspiração de criação francesa.

O conteúdo pode e deve ter grandeza,

Presente deve estar perfeita melodia!

A metrificação precisa estar correta,

Cada poeta assim cumprindo a sua meta.

Soneto: uma canção que faz bem aos ouvidos!

Nos verbos, concordância e inspirações divinas,

soneto fluirá como águas cristalinas.

Saúdo-vos então, sonetistas queridos!

Marlene Reis

O ALEXANDRINO E EU

Se começo o soneto, a incerteza provém!...

Sem saber se o poema arrebata no verso,

Se a magia da rima, encantada, disperso

Entre um ritmo quebrado ou na métrica e além...

Nos quartetos, se a luz da sonância convém

Ver se ao clássico atende, ou se finda transverso,

molestando o estatuto em qualquer controverso;

Passo a passo, auferindo os tercetos também...

Pelo molde engessado, "a poesia" reluta,

Destoando a canção, numa amarga disputa

Entre o curso formal e o lirismo... No entanto,

Como um bom exercício, a feitura distrai,

Traduzindo o valor do poeta que atrai

Para si a destreza ou mesura do encanto!

Aila Brito

O VERSO ALEXANDRINO

É, sim, um desafio, uma provocação,

Um certo estimular que atiça o sonetista,

Movido de emoção, de forma saudosista,

Atando à regra forte a sua criação.

Levado pelo afă, pela imaginação,

Embora sem perder a regra já prevista.

Xadrez, por sua norma; exalta um bom artista,

Aquele que trabalha atento em sua ação.

No jeito de compor, cuidando sem cessar

De cada pormenor, qual um beneditino,

Revendo verso a verso, até se lapidar.

Imensurável zelo, o nobre paladino

Nos mostra com esmero, aqui, só por amar

O método exemplar do Verso Alexandrino!

Isaías Ramalho da Silva

Obs: Soneto Acróstico

CARPINTARIA ALEXANDRINA

Soneto alexandrino? Encanto em cada verso...

Na rima brinda o som com pura primazia,

repleto de lirismo – o pranto do universo.

Exponho em cada estrofe a vida que vivia.

Qualquer palavra chula esqueço e, assim, disperso...

Costuro na emoção um traje que extasia.

Preciso do rigor, senão terei o inverso,

então será somente a livre poesia.

Às vezes, a cesura exibe-se imperfeita,

jamais vacilo, apago a imprecisão sem dó.

Soneto não parece o ramo de um cipó,

que segue se envergando e nunca se endireita.

É necessário ter enorme disciplina,

se quero o alexandrino ornando a minha sina...

Janete Sales

ARTIMANHAS DO ALEXANDRINO...

Contando sempre doze, a voz regula o passo —

fartável extensão do verso alexandrino...

A falha na escansão revela o dom escasso,

estampa-se o tropeço à luz do desatino.

Na escrita pueril, temendo um erro crasso,

prossigo a tatear, no verso vil, franzino.

E tem a tal cesura — o corte no compasso —

agora já nem sei, se meu soneto assino...

O desafiador poema em tom francês

mostra Alexandre em dupla: o herói e o trovador.

Unidos na intenção de honrar a cantilena,

em seu batismo traz sinal de quem o fez.

Os versos cantarolo, em meio ao dissabor —

sendo o Alexandre grande, afirmo: sou pequena!

Elvira Drummond

SONETO BEIJA-FLOR

Soneto beija-flor, que suga dos quartetos,

Com bico fino e longo, o verso, tão traquino,

E beija bem depressa a dupla de tercetos,

Em voo assim veloz, mais ágil que menino.

Contempla-se feliz o encanto dos sonetos,

De forma especial, no verso alexandrino.

Entoam a canção, sextilhas em duetos

Que teimam em rimar de modo tão divino.

O verso do soneto é como um beija-flor

Que deixa no leitor um beijo duradouro,

Que voa em marcha ré ou no imoto esplendor.

O beija-flor aguarda o versejar vindouro,

Vivendo simplesmente o seu rico labor,

Chegando ao seu final com verso chave de ouro!

Luciano Dídimo

Nº 7484 - SONETO ALEXANDRINO TRAZ AMOR E SONHO

-

Por Sílvia Araújo Motta/BH/MG/Brasil

-

Le Grand, francês, compôs o verso nobre, eleito,

na pauta raro som, no ritmo pulso certo;

em duas pausas pôs escala. Belo feito;

manteve raro tom, canção, sinal aberto.

-

Catorze versos! Sol Maior na Clave efeito...

Cadência trouxe palma em boa fama, alerto!

Na Espanha, em sol menor, apoio foi suspeito;

na Itália, dentro d´alma, o choro então, desperto.

-

Se o rio corre além da fonte, paz encerra;

a fronte fica erguida ao céu azul risonho...

Semente cai, porém a chuva molha a terra...

-

Poesia acalma e rindo, entorna a mágoa fora.

Amor que encanta a vida oferta o novo sonho:

Outono chega lindo e frutos colhe, agora.

-

Sílvia Araújo Motta

A UM POETA

Poeta perspicaz, que a perfeição cultua...

Começa seu soneto e pensa na estrutura;

Escolhe a melhor forma, atenta-se à cesura

E muda uma palavra, e lima, e sofre, e sua!

Depois vai à janela, avista a linda lua,

E com simplicidade, um verso a mais costura...

Consegue, enfim, trazer sua emoção mais pura

E faz com que, do peito, o sentimento flua.

Prossegue em seu trabalho, adentra nos tercetos...

Com técnica esmerada e máximo refino,

Demonstra seu valor de grande mestre – Um craque!

Artista sem igual na escrita de sonetos,

Que traz até no nome um verso alexandrino:

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac.

Gilliard Santos

DIVINA COMÉDIA

Proponho-me a compor em verso alexandrino,

Com toda rigidez, toda arte e toda graça,

Um Canto que requer o dom da alma devassa

E um espírito assaz travesso e libertino!

A Grécia deu-nos Safo, encanto feminino,

Em Roma temos Nero, entre o crime e a desgraça,

De Portugal, Bocage, as virgens entrelaça,

Da França veio Sade e da Itália Aretino!

Nos círculos de Dante, em gritos, desacatos,

Ouvia-se um soneto! Eu juro em Deus eterno!

Minha alma estava ali, pagando por meus atos!

Se não era de Safo, um verso tão moderno,

De Aretino ou Bocage... Ah! Gregório de Mattos,

Como não conhecer-te, ó vil Boca do Inferno?

Rafael Santos Ferreira.

ADORAÇÃO (Paráfrases)

Minh'alma de sonhar é adorar o soneto!

Soneto é fogo que arde, é luz, posto que é chama.

Soneto é belo. Belo à exaustão! Não é drama,

É lira, é mais que bem querer. Nada obsoleto.

De tudo, o meu Amor é antes, o quarteto

E o terceto. Esta tão nobre Arte que proclama

Além da Taprobana, em cativante flama.

Não mais que de repente, ao seu bem me submeto.

Quem sabe a inspiração – angústia alexandrina

Possa dizer do Amor que tenho. É minha sina.

Oh! Flor do céu! Oh flor cândida e pura em mim...

Pois eu te digo, Amigo - ama-o para entendê-lo

Em sua perfeição. E afirmo com tal zelo:

Soneto é como um deus, princípio, meio e fim!

Paulino Lima

ADEUS!

E aqui te deito, minha estrofe preferida.

Não mais te quero em meu olhar nos fins de tarde!

Quero arrancar-te deste intento, desta vida!

Pois não me serve o amor que é chama, mas não arde.

A vida é breve e vale a pena ser vivida

Intensamente igual paixão da mocidade,

Que aperta o peito após o beijo em despedida,

Pois só quem ama pode então sentir saudade...

Não posso mais guardar a estrofe deste verso,

Embora a cor de tua essência em meu caderno

Inda colore a minha estrela no universo.

É tarde! Escoam sobre a minha face morna

as emoções de um verso escuro, o amor moderno,

e em paz me deito enquanto escrevo à luz da Norma.

Jean Marcell

O EU ALEXANDRINO

Soneto que me escreve a vida por palavras,

Com pausa breve e longa, e sem ponto final,

Com rima pobre e rica, aguda, mas tonal,

Sem perder a cadência, assim, Tu me apalavras.

Versos que me compõem e que são minhas lavras,

Trazem a forma antiga e tradicional

Que me faz elegância, e não sei outro igual

Capaz de me expressar com força que escalavras

Aquela minha essência atrás da superfície,

Ferindo a poesia e limpando o poema.

Alma e corpo compondo este metapoema

Com intento rigor e ilibada mundície.

Tu, ó velho poeta, o meu grão maestrino,

Sou eu de suas mãos o verso alexandrino.

Márcio Adriano Moraes

QUATORZE JORNADAS

Em doze passos ele avança e, na metade

precisa suspirar e, após estar completo

o esplêndido labor, cumprindo seu trajeto,

prossegue na missão, vereda nova invade.

Atento à validez do ciclo predileto,

apura a inspiração, alcança alacridade

no enredo repetido: a mesma quantidade

de rastros no caminho estampa, desinquieto.

Quatorze sensações de regozijo aspira

e, enquanto mede bem as emoções da lira,

escolhe com carinho o alentador destino.

Soneto feito assim, conforme um bom modelo,

traceja no papel, provando ter desvelo

o vate construtor do verso alexandrino.

Jerson Brito

Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO
Enviado por Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO em 10/06/2021
Reeditado em 27/09/2021
Código do texto: T7275988
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.