Alguns
Eu não me entendo nem comigo mesmo,
confuso ser sofismando ao espelho,
nômade errando sem memória e a esmo,
recém-nascido entregue a um mundo velho.
Quem sou eu, quem me sabe e me revela?
Tento entender meu ser todos os dias
e ao tentar minha consciência se atrela
ao enigma que ceifa almas vazias.
Eu sou meu velho e antigo camarada,
vou sempre comigo na noite aflita
e ao me olhar não reconheço nada.
Quem é esse estranho ser que me habita?
Não sei quem sou nem quero saber.
Este que fala não sabe de si.
Estranho vulto, ó, muito prazer!
Sou o conhecido que nunca conheci.
Ler é uma atitude revolucionária,
transforma seres, mundos e atitudes,
mas ler com a cabeça libertária,
além do texto e em outras amplitudes,
lendo primeiro o mundo para transformá-lo,
fazendo uso útil da informação,
sem o pedantismo típico de um cavalo
que faz da sua cultura o capim da ilusão.
Ler além do texto é o ato criador
de seres livres e transmissores de liberdade,
pois o verdadeiro e potente leitor
é o que lê em si mesmo a humanidade.
Quero pirar o mundo
e salvá-lo de si mesmo,
ser louco e oriundo
do meu ser intenso.
Internar o psiquiatra,
dar alta ao louco,
ao mundo dar alta
e ver Deus louco e solto.
Meu coração é um raio do sonhar
se abrindo em luz em meio aos caos insano,
eu mesmo sou um sonho sobre-humano
que nem o silêncio pode acordar.
Sonhar é minha eterna profissão,
o sonho bom prolonga o meu viver
e me faz ir além da Criação
e nessa Criação sonhar e ser.
Sonho sonhando sempre no que ponho
de magnífico do que me inspira,
e, ao me ver imerso no meu sonho,
o mundo sonha e o seu sonho delira.
A gente segue a vida acordado (?),
pensando que viver é estar desperto.
Mas a surpresa pode estar por perto:
acorde, você está sendo sonhado!
Eu sou um cara avesso ao vil sistema,
ando quebrado, mas tenho o valor
de não ter nenhum valor o meu poema,
mas tornar rico o meu interior.
Ando nas ruas, rimo, limo o verso,
encontro no adverso o meu mais forte,
oscilo na amplidão desse universo
e no meu verso busco o meu suporte.
Pela cidade ponho rima em cada esquina,
poema duro e cheio de contrastes,
assim toda sujeira a arte elimina
e transforma a podridão urbana em arte.
Um dia me tornarei um velho cansado,
até lá rimarei sem cansar, dia após dia,
e no fim descobrirei, rico e encantado,
que a morte do poeta é a sua poesia.
Toda beleza verdadeira é despida
de qualquer vaidade tola e presunção,
caso contrário é apenas a ressentida
máscara da mais feia contradição.
Beleza é ver no fundo a bela imagem
que o olhar raso nunca pode ver
e não a rica mas falsa embalagem
que ilude a vil cegueira do seu ser.
Belo não é ter um rosto esculpido
e um corpo em músculos trabalhado,
é ter todo o respeito, hoje esquecido,
mas pela bela alma sempre lembrado.
Beleza é o ouro da alma, invisível
aos olhos fixos no superficial.
A beleza da forma é bem risível,
a beleza da alma é essencial.