TRILHA XXXVI- FLORBELA ESPANCA

*PRIMAVERA*

É primavera agora, meu Amor!

O campo despe a veste de estamenha;

Não há árvore nenhuma que não tenha

O coração aberto, todo em flor!

Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor

Da vida… não há bem que nos não venha

Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!

Não há bem que não possa ser melhor!

Também despi meu triste burel pardo,

E agora cheiro a rosmaninho e a nardo

E ando agora tonta, à tua espera…

Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos…

Parecem um rosal! Vem desprendê-los!

Meu Amor, meu Amor, é Primavera!…

Florbela Espanca

*PRENÚNCIO DA PRIMAVERA*

As almas vegetais querem propor

Que se celebre a vida até que venha

O renascer das flores, em resenha

Que sintetize o brilho, a luz e a cor.

Com asas de anjo, um pássaro pintor,

Em movimentos ágeis, redesenha

Toda a paisagem; seu cantar é senha

Para a chegada da estação do amor.

A bruma tisne as folhas de um tom pardo;

A mata tagarela, nesse aguardo,

Festeja, em contrações, enquanto espera…

Até os animais trocam seus pelos.

E a natureza exulta e vibra ao vê-los

Na doce gestação da primavera!

Marcelo Henrique

*ATAVIADA*

É primavera, amor, cessou o frio.

No campo, desabrocham as roseiras

em profusão de cor, alvissareiras,

bordando a margem cálida do rio.

E estando a olhar-te, quedo-me... Sorrio!

Quem dera ver a vida pelas beiras,

viver o amor das horas derradeiras,

mesmo que reste a mim um tênue fio!

E visto-me da bela flor do campo;

um sonho, em suas pétalas, estampo

e tenho em mim o cheiro dos amores.

Ataviei-me, amor, ao teu prazer,

mas o ínfimo dulçor do meu viver

eu temo que me roubes quando fores...

Geisa Alves

*PÉTALAS*

Onipresente, a natureza impera

Por pétalas - telúrico tecido -

De cores, sobre o corpo revestido

De verde: a viva mata dessa esfera!

A flor, relíquia ao fundo da tapera,

É símbolo de amor com seu vestido,

Talvez por ser aos mandos de um cupido...

Missão de colorir a litosfera!

Por essa dádiva formosa, acinte

À Lei Suprema no viés requinte,

Contagiando os filhos nessa senda...

E o vasto campo, mãe de lindas rosas,

O sussurrar das folhas olorosas

No Lar que a Natureza referenda!

Ricardo Camacho

*A PRIMAVERA E A VIUVEZ*

Recolocando a cor na frigidez,

Altar de um tom cinzento ambiental,

A primavera expõe matiz floral

E traz perfume à minha sisudez.

Renova a minha tênue placidez

Repondo ao meu jardim seu enxoval,

Que veste esse meu luto matinal,

Parceiro da terrível viuvez...

Repouso, ao conversar com minhas flores,

E sinto acasalar-me aos seus odores

Na angústia de explicar o meu terror.

Mas ouço-as revelarem gentilmente,

Que Deus compensará a dor vigente,

Ressuscitando ali, meu grande amor...

Plácido Amaral

*PLANETA AZUL*

É primavera, os lírios rebentaram

enchendo as pradarias de ternura,

montes e vales vestem com brandura

as mais diversas cores que os forraram.

Abelhas coloridas despertaram

buscando o mel em tempo de fartura

e ao espalhar, a brisa, tal doçura,

os colibris também nidificaram.

Canários, bem-te-vis e os sabiás

chegam à tarde aos pés de manacás

num grande festival de melodias...

É a Terra azul aos olhos mais distantes

mostrando ao mundo quão exuberantes

nascem de sua entranha as suas crias.

Edy Soares

*CORAÇÃO DANÇARINO*

Mirando a perfeição que revigora,

faminto, meu olhar se delicia

no verde da gentil tapeçaria

bordada pelas flores nesta aurora.

Um beijo apaixonado leva embora

as lágrimas da noite e a pradaria

envolve devagar a névoa fria

que o feixe incandescente fere agora.

O coração transformo em dançarino

nos palcos do cenário matutino,

erguido pelos deuses da paixão.

O sol desponta, a vida se engalana,

mas a euforia chega, soberana,

apenas quando agarro tua mão.

Jerson Brito

*FLORA*

Olores naturais, revigorantes,

Dispersos pela brisa da beleza

Que volta após o inverno de tristeza,

Inundam vales, serras, e vazantes.

A fauna vê seus membros saltitantes,

No viço, celebrando a natureza...

As brumas dão lugar à boniteza

Dos dias, sem mormaço, radiantes.

Prenúncio de verão, a Primavera

Distingue-se por ser menos severa

Que as outras conhecidas estações.

Depois da hibernação, a vida explode

De forma magistral para quem pode

Gozar, assim, terrenas sensações.

José Rodrigues Filho

*O GLOBO*

São quatro as estações, e a que supera...

E envolve meu pensar em tom suave,

Caprichos desse navegar da nave

Que, em ponto especial, transforma e gera;

Neste momento, a natureza impera

Com cores cativantes, sem entrave,

O antigo outono, então, deixou a chave

Da porta dos jardins: é primavera,

Os passarinhos dançam entre as flores,

Os campos modificam seus verdores

Em galhos tão desnudos convertidos.

Seguimos nesta grande evolução,

Minúsculos detalhes, a lição

Do Globo transformando seus sentidos.

Douglas Alfonso

*A PRIMAVERA E O MEU AMOR*

O dom vernal, a olência e o seu frescor

Marcam profundo o meu amor primeiro

Que, em tom floral, refeito por inteiro,

Meloso, se derrama em seu verdor.

Nos ramos da emoção, gentil dulçor

Aflora em incomum jardim, ribeiro

De rosas, margaridas... no canteiro

Do coração - qual sálvia e o beija-flor!

Recordação de encanto e melodia

Que reverbera a paz e se irradia,

Pelas campinas d'alma, o amor que impera;

Reverte-se da fase germinal,

Rebrota da magia atemporal

O meu amor primeiro... é primavera!

Aila Brito

*PRIMAVERA ADORMECIDA*

Amor, perdi o fôlego da vida

que, aos poucos, só encontro no passado.

O quadro na parede está manchado,

agrava a primavera adormecida.

Olho o jardim... cadê a margarida?

As pétalas estão no chão trincado

e, sem te ver, faceio um triste fado.

Represo um mar de lágrima sentida.

Quero de volta a rosa entreaberta,

florindo o novo dia que desperta,

escravo deste tempo tão fugaz.

Setembro ressurgiu, cadê as flores?

Preciso amenizar as minhas dores,

reflorescer no amor, seguir em paz...

Janete Sales Dany

*É PRIMAVERA SÍMBOLO DO HORROR...*

É primavera símbolo do horror,

Que um renascer de corpos desempenha;

Que em casca vil - carnal prisão! - embrenha

Uma alma livre e só, sem dó, sem dor...

Dessa estação que traz renovo em flor

A minha Gnose quer da amnésia a senha

Para esquecer da vida que desenha

Os riscos vãos dos males que há de expor.

Cada botão, floral, florão, um dardo

Fere esse espectro que, antes, sem o cardo

Desta vivência, tinha vida à vera...

Plotino fala e não dispõe apelos

Para envolver-se o espectro são em zelos

Co'o vivo tom fugaz da primavera!

Felipe Amaral

*RESSURREIÇÕES PRIMAVERIS*

A primavera chega em esplendor,

Não há um ser vivente que a detenha,

Pois vem com suas cores e desenha

Um mundo que parece promissor.

Depressa as flores crescem com vigor,

Temendo que o verão já sobrevenha

E encerre de maneira tão ferrenha

As cores pelo impávido calor.

A flora parideira, de resguardo,

Contempla os seus rebentos em aguardo

Ao breve fim da vida, pois, que a espera.

Vai-se o verão. O outono nasce terno

E o branco cobertor do triste inverno.

Depois, chega de novo a primavera!

Luciano Dídimo

*SONHO PRIMAVERIL*

Vislumbro o doce tom primaveril,

que tanto ao meu espírito apetece...

Tais cores, que usarei em minha prece,

pertencem à matriz do meu perfil.

Se apago a vil paisagem cinza-hostil,

e a força da alegria transparece,

direi que as cores vivas da quermesse

pincelam o ano inteiro em tons de abril...

Há cenas que a visão real desmente —

maior poder entrega à própria mente,

mostrando-me, no inverno, a primavera.

Os sonhos são retalhos do que vejo

ou surgem dos bordados de um desejo?

A fé aduba a flor e a recupera!

Elvira Drummond

*PRIMAVERA*

Escute, Amor! É tempo de esperança!

É tempo de acordar da letargia;

O sol nasceu, potente, em novo dia;

É hora de lutarmos por mudança.

Adentre, Amor, comigo nesta dança;

Juntemos braço em punho e poesia!

Como o refrão da música anuncia:

Aquele que acredita sempre alcança...

As flores brotam, vívidas, nas plantas

E as nossas causas justas, que são tantas,

Emergem, feito grande e forte fera.

É necessário agir com atitude;

Tenhamos o vigor da juventude;

É novo tempo, Amor! É primavera!

Gilliard Santos

*PRIMAVERA*

Eu vejo a primavera no condor,

num firmamento infindo que desdenha

daquela voz baixíssima e rouquenha

do inverno, que perdeu de vez a cor;

na cicatriz eterna de uma dor

da qual somente o tempo tem a senha

e, mesmo que o sepulcro em breve venha,

não manchará as digitais da flor...

As folhas acobertam, sem retardo,

as ruas mais nostálgicas, que guardo

os rastros de um verão que nos espera

por estações de fogos e de gelos,

quando os botões da vida viram selos

que não se fecham para a primavera.

Adilson Costa