TRILHA XXXV- AUTA DE SOUZA
*O BEIJA-FLOR*
Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim – a pátria da ambrosia.
Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro…
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, n’essa manhã tão fria!
Um dia, foi-se e não voltou… mas, quando
A suspirar, me ponho contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho…
Digo, a pensar no tempo já passado;
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!
Auta de Souza
*COMO UMA FLOR*
Formoso dançarino beija-flor,
Valsando pelo leito da ambrosia
Chega cortês, sereno, todo dia
Para arraigar a flor com seu calor
Inverte com seu garbo sedutor
Aquela que lhe toca com magia
Estimulando, em si, a galhardia
Do que é mais belo, puro e sonhador
Assim também, no meu jardim da vida,
Sou flor eleita, amada e enternecida,
Em voo livre, como um passarinho
A suspirar, ardente e prazerosa;
E em dileção, lembrando aquela rosa,
Cheia de amor e plena de carinho!
Aila Brito
*UM BEIJA-FLOR*
No entardecer do dia, o Sol já se ocultando,
Um beija-flor, bailando, enquanto se nutria,
Deteve-se na rosa, aumentando a folia,
O folguedo e o zum-zum dos insetos em bando!
Aquele beija-flor vinha, de quando em quando,
Exibir-se em seu voo, em total sintonia...
Com as asas vibrando, em sua forma esguia;
Todo o néctar que havia, o seu bico sugando.
Seguindo o seu exemplo (uma ilusão florida!),
Também me aciganei pelos jardins da vida.
Dias de beija-flor! Quis voar, inclusive.
Agora, no meu peito, uma dor tão voraz...
A saudade me diz: “Voa, livre, ó rapaz!”,
Mas o tempo cortou as asas que eu já tive.
Marcelo Henrique
*O VISITANTE*
Flutuante no céu, elegante ousadia
Com a qual, de manhã, no voejo certeiro
Em matizes de azul, poliniza o canteiro
Aquecido na luz que, do sol, irradia!
Bem-estar matinal de espelhada alegria
Faz do outono gentil, pelo pássaro obreiro,
O aprazível jardim que inebria bom cheiro
Culminando em visão e paisagem sadia!
Adejando a bailar, instintivo ao comando
De beijar e beijar, tantas flores, voando...
Beija-flor do meu lar para um campo transponho!
Sem cessar, flor em flor, para todos os lados,
Nas bicadas de amor, movimentos quebrados...
Beija-flor, beija-flor! Visitante de um sonho!
Ricardo Camacho
*REDENÇÃO*
Antes que a luz do Sol se faça incandescente,
em hora de oração e prece matutina,
une-se à minha voz um beija-flor que trina,
afaga o meu sentir e acalma a minha mente.
É belo o beija-flor que voa alegremente,
pequeno mas veloz, o voo me fascina...
Enquanto beija a rosa olente e pequenina,
no seu trinado eu sinto a graça de um presente!
Abraço-me em amor e sinto a luz que brilha,
permito que redima a minh'alma andarilha
e vejo que se foi a dor que me afligia...
E o lindo voejar, às voltas, no jardim,
transponho como um sonho a despertar em mim,
desejo de voar num céu de calmaria!
Geisa Alves
*ASAS DA LIBERDADE*
As flores não estão ornando mais as casas,
depois que a revoada azul das borboletas
tornou-se cinzas para alimentar as asas
de um _habeas corpus_ posto em tantas vis gavetas...
Agora os seus jardins serão as covas rasas
das sinas mais cruéis, de todas as sarjetas,
do ocaso já sem cor nas velhas silhuetas
de um pavilhão sombrio imerso em suas brasas.
A Torre de Babel jamais teve harmonia
nas salas surreais por onde a cantoria
tentou calar a voz de um hino acolhedor
do canto mais divino enquanto a realeza
assina petições clamando a natureza:
retirem da gaiola o nosso beija-flor.
Adilson Costa
*SONETO BEIJA-FLOR*
Soneto beija-flor, que suga tão traquino
Com bico fino e longo, o verso dos quartetos,
E beija bem depressa a dupla de tercetos,
Em voo assim veloz, mais ágil que menino.
De forma especial, no verso alexandrino,
Contempla-se feliz o encanto dos sonetos.
Entoam a canção, sextilhas em duetos
Que teimam em rimar de modo tão divino.
O verso do soneto é como um beija-flor
Que voa em marcha ré ou no imoto esplendor,
Deixando no leitor um beijo duradouro.
O beija-flor aguarda o versejar venturo,
Vivendo sabiamente o seu labor seguro,
Chegando ao seu final com verso chave de ouro!
Luciano Dídimo
*A LUZ DO BEIJA-FLOR*
Contemplo o beija-flor repleto de alegria,
de flor em flor procura o bálsamo da vida...
Parece que me entende e fico enternecida,
o instante é cintilante, a paz me contagia.
Vem, pássaro divino, amansa a pandemia!
Em cada voo seu encontro uma saída,
desejo amenizar a lágrima caída.
A sua liberdade é tudo que queria...
Esqueço a dor se vejo o belo beija-flor,
repleto de lirismo, em tudo encontra amor.
Em cada flor que beija, afasta a desventura...
Nas asas deste ser, o sonho prevalece,
pois na leveza traz a essência de uma prece.
No canto tem ternura e exalta a luz da cura!
Janete Sales Dany
*MINHA MÃE, A ROSEIRA E O COLIBRI*
Minha mãe conversava envolvida co'as plantas
Que regava em manhãs de belezas florais,
Convencida de ter atributos leais
De ser dona da luz e das águas tão santas.
Todo dia porém, vindo não sei de quantas,
Um azul colibri com desejos banais,
Preparando ao voar, os seus planos reais,
Osculava a roseira, a mais bela entre tantas.
Minha mãe, com razões de fiel jardineira,
Suspirava ao prazer de ver sempre a roseira
Ser beijada por mais e por mais colibris...
Mas o azul beija-flor, por questões de ciúmes,
Revoou do jardim e entre vários queixumes,
Nunca mais repetiu seus momentos viris...
Plácido Amaral
*ASAS DA LIBERDADE*
Surgiu um novo dia, e vi pairar nas flores
Os lindos colibris, em voos graciosos.
Prendi o meu olhar ao vê-los, radiosos,
Beijando levemente as plantas multicores.
A brisa, tão suave, expôs os seus olores
Na mescla singular de cheiros majestosos.
Perfume sem igual e pássaros ditosos,
Pra frente e para trás, os lindos beija-flores.
Ali, fiquei inerte ao ver a bela dança!
E comecei meu dia envolto de esperança,
Pois descartei no lixo as mágoas e a maldade.
Agradecendo a Deus por ter o lindo exemplo,
Reconstruí meu ser: da mente fiz um templo
Voltado à natureza e à sua liberdade.
Douglas Alfonso
*A FLOR E O BEIJA-FLOR*
O pássaro, fiel, repete a cena:
volteia, todo dia, o meu jardim...
Suave como estampa de nanquim,
o beija-flor à linda flor acena.
Contempla a acácia, o cravo e anil verbena,
mas voa em direção à flor carmim.
De asinhas ternas, feito um querubim,
o amante sempre escolhe a flor pequena.
E pousa o beija-flor enamorado,
daquela flor hostil se põe ao lado.
Mas gira o mundo em brusca contramão...
E a flor revela a face ardil-menina:
enlaça o beija-flor, mudando a sina,
e o beija milagrando audaz paixão!
Elvira Drummond
*BEIJA-FLORES*
Indescritíveis, sempre os vi assim,
quais anjos pequeninos coloridos
a agraciar meus olhos comovidos,
beijando cada flor do meu jardim.
Recordo-a em seu pijama de cetim,
mamãe, em seus canteiros mais floridos,
os frascos de água e mel abastecidos…
O céu da minha infância doce, enfim.
Agora estas lembranças tão singelas
dos colibris pairando nas janelas
enchem os versos meus de nostalgia....
E quando volto à casa da mãezinha
a vejo em seu jardim, mas tão sozinha...
Há poucos beija-flores hoje em dia!
Edy Soares
*PRESERVAÇÃO*
No meu quintal, após raiar o dia,
Encontro, sempre, um beija-flor-tesoura,
De cor azul em pose duradoura,
Pousado em um cordel com galhardia.
De vez em quando, espanta a covardia
Do macho estranho, afoito, que rasoura
O seu jardim buscando uma caloura
Que ali entrara, pois o cio ardia.
O dimorfismo não se faz presente
Na bela espécie, aqui jucundamente,
Descrita como a flor dos passarinhos.
Assim, feliz, desperto pra labuta,
Cerzindo versos e encampando a luta
Por colibris, saíras, e sebinhos.
José Rodrigues Filho
*NO MEU QUINTAL*
Ao lado da palmeira colorida –
Que, pelo aspecto artístico, decora
A casa –, um beija-flor se achega agora
De forma tão vibrante e decidida.
Crisântemo, papoula, margarida...
Em cada planta dessas se demora,
Sorvendo-as e depois vai para fora,
Esvoaçando, em nítida partida.
Jamais eu quis, em minha habitação,
Manter qualquer gaiola ou alçapão.
E, assim pensando, posso concluir
Que, numa circunstância natural,
Quanto mais belo for o meu quintal,
Mais tantos beija-flores hão de vir.
Gilliard Santos
ANTIGOS ROSEIRAIS
Retalhos de emoção se deitam sobre a alvura
da folha de papel guardada e, nesta cama,
disperso meu plangor, a vida se derrama
na inquietação que traz a madrugada escura.
Um sonhador regressa, o coração murmura,
dizendo as aflições do lancinante drama,
degusta o colorido intenso e se proclama
senhor da imensidão repleta de ternura.
À força deste ardor unido, sou liberto,
revivo os arrebóis de outrora, chego perto
daquela que me fez alegre até demais.
A pena que conduz declarações ao vento
parece um colibri tecendo o sentimento
nas trilhas onde encontra antigos roseirais.
Jerson Brito