RUÍNAS

No teto se abriu rachadura impudica;

paredes de vidro quebradas, em cacos;

o piso a romper-se, aos torrões, em buracos

profundos, gulosos, chupando o que fica.

No quarto, sapatos, um par, de pelica

usados outrora com finos casacos,

agora, de terra encobertos, opacos,

largados no caos que o revés multiplica.

A sombra da vida provoca sufocos

e lança o terror, tal disparo à bazuca,

no tolo a pensar-se um imune de socos...

Então, finalmente, a vivenda caduca

(efeito soberba da mente dos ocos)

desfaz-se no pó da desgraça que educa.

Obrigado pela interação, Fernando Cunha Lima:

RUÍNAS

Ruínas de um tempo já passado,

Tijolos com tijolos num xadrez,

Frontispícios de casas, sua tez,

Vê-se como um vulto assombrado.

Num casario velho desprezado,

Onde só intempérie tem a vez,

Somente escombros e aridez,

Nos restos dum portal abandonado.

Muros e portões todos caídos,

Meias paredes jazem sem sentidos,

Há mofo da metade dos painéis.

O que já foi tão bela moradia,

Não faz nem tanto tempo, outro dia!

Vive das cinzas dos seus chaminés.