RESILIÊNCIA / GARIMPEIRO
RESILIÊNCIA I – 7 MAIO 21
Que oorreria,caso morresse a atriz
ou o ator e de repente desaparecessem
todos os filmes e fotos e se esquecessem
quaisquer lembranças do que a pessoa quis?
Que ocorreria se quanto um dia nos diz
um poeta ou novelista e o que escrevessem
após suas mortes, todas as obras se perdessem,
tal qual se lava de um quadro todo o giz?
Quem sabe houvesse certa libertação,
sem que fôssemos “governados pelos mortos”
como o filósofo declarou-nos, certa vez.
Onde estaria toda a civilização,
Sem que a cultura ancorase em nossos portos,
Cada erro a repetir a insensatez?
RESILIÊNCIA II
De fato, sempre houve tentativas.
Os Romanos conseguiram muito bem
apagar toda a cultura de Cartago,
só se conhecem suas próprias narrativas.
E as culturas celtas, hoje redivivas
com grande esforço, sofreram também
afogamento dentro do romano lago,
quase apagadas as religiões nativas.
Porém na Idade Média foi o pior:
toda a cultura que criara o paganismo
sendo queimada em chama e preconceito;
quantas torturas e indisível dor
sofreram esses acusados de heresismo,
por preservarem da ciência algum conceito?
RESILIÊNCIA III
Muitos cientistas depois, naturalistas,
como a si chamavam, em sua vasta humildade,
declararam só ter obrado, na realidade,
sobre “os ombros de gigantes” vendo as pistas.
Inutilmente se realizariam as conquistas
da tecnologia, proclamada com vaidade,
se não mantivéssemos em perenidade
os “doze trabalhos” dos heróis renascentistas.
Mas eu contemplo os stills mais antigos
e os comparo com quaisquer fotografias
de atores e atrizes na “terceira idade”...
Que ocorreria se cruzassem os perigos
da longa vida, sem que as fisionomias
se desgastassem em sua maturidade?
garimpeiro I – 7 maio 202l
vou recolher as bolhas da chaleira
para com elas compor belo colar;
talvez seja bem difícil engastar,
com fios de água acharei certa maneira.
das bolhas colho a vaidade derradeira,
é no momento de seu maior brilhar
que de repente se espantam a estourar,
perdido o orgulho em morte sorrateira.
ainda assim, minhas unhas as recolhem
e com fitas de água as solidificam,
que lhes conserve a superficial tensão.
então os ombros de minha amada as acolhem
e entre os seios elas se nidificam,
igual cristais esmeraldinos de ilusão.
garimpeiro II
igual que bolhas estufam-se as estrelas,
até o momento de explodirem supernovas,
quaisquer redondas, outras com corcovas,
englobam a luz sideral de mil estelas.
eu as recolho ao instigar costelas
das constelações que zodiacais aprovas,
são esqueletos de animais tais trovas
e com cometas engasto as que são belas,
antes que cheguem à máxima vaidade
que só pode conduzir à sua explosão,
mas engastadas assim, nessa corrida,
não se transformam em pulvericidade
e as penduro no mais alto pendão
das cordilheiras que construo na minha vida.
garimpeiro III
porque, de fato, são bolhas os meus versos,
por mais que eu queira que fossem estrelas,
não formam praças, são versos de vielas,
acumulados em mil montões conversos,
mas os engasto em corações abertos,
que os recebem votivos como estelas,
bolhas vazias a pretender ser belas,
só têm beleza nos sentimentos certos;
sequer são lantejoulas, cascas finas,
cheias de ar, são gemas de vapor,
bolhas de sonho em busca de calor,
bolhas de canto em notas pequeninas,
na solitária busca da acolhida,
e que suplicam lhes dês tensão de vida.