O INFERNO DE ODEMIRA
“Os escravos do Séc. XXI”
- O que é que se passa aqui, quem são vocês?
- Trouxeram-nos para cá, creio que para trabalhar…
- Ah…, mas aonde? Que trabalho vos estão a dar?
- Andamos aí numas colheitas esquisitas, vês?
- Que colheitas são essas? Que produtos, desta vez?
- Azeitonas, tomates, framboesas… é o qu´ está a dar…
- Ah, sim? Então, isto aqui, é para pernoitar?
- Vêm cá as carrinhas e levam aos dois e aos três.
- São longe esses terrenos? E se não quiserem ir?
- Ainda são. Se não quisermos ir, não recebemos
E a isso – se querem saber – ninguém pode fugir…
- Recebem ao dia ou à semana? – Mais ao menos!…
- E estes contentores, dão mesmo para dormir?
- Oh, não são grande coisa, mas é a casa que temos!
– Trabalhar ou não trabalhar, receber ou não receber,
(Eis a trivial questão que dá a ideia dum inferno…
É este o lamentável processo hodierno…).
- E se, entretanto, algum de vocês adoecer?
- Ninguém aqui adoece e, se a vida é um braseiro,
Odemira, entretanto, é o nosso mealheiro!
Frassino Machado
In ODIRONIAS