COLÉRICOS

Deslizam sobre o dorso da serpente

gotículas queimantes de saliva

e, sem domar a sanha possessiva,

o despudor bradeja insanamente.

Lateja, numa fome convulsiva,

um animal entregue à redolente

exalação que aquieta gradualmente

impulsos, nossa cólera lasciva.

Os olhos trocam feixes de alegria

na madrugada infinda que irradia

o majestoso brilho deste afeto.

A languidez nos cerca e se transforma

na teia em que repousa toda norma

quebrada pelo sonho, enfim, completo.