TRILHA XXXIII - BOCAGE
*AUTORRETRATO*
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo na figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
Dos zelos infernais letal veneno:
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia que se achou mais pachorrento.
Manoel Maria Barbosa Du Bocage
*AUTORRETRATO*
*(Imitando a Bocage)*
Bojudo, olhos castanhos e moreno.
Sorrindo, eis-me simpática figura.
Às vezes, minha pena é ferradura,
Conquanto seja espada... e até veneno!
Um polemista sem qualquer aceno
À vassalagem por moeda impura.
O brilho da careca me assegura
A transfiguração do Nazareno...
Se enfrentei o furor das tempestades,
E as mesmas tempestades ainda enfrento,
O meu tesouro é feito de amizades.
Eis Marcelo – um perfil sem julgamento!
O vinho capitoso das vaidades
Há muito não me serve de alimento.
Marcelo Henrique
*EIS ALFONSO*
Castanhos são os olhos, narigudo,
Cabeça bem dotada de tamanho
Com braços fortes eu assim assanho;
O peito trabalhado e cabeludo.
Por vezes tenho o jeito bem sisudo,
Sem vícios de bebida, ou fumo estranho,
Na média brasileira, não tacanho,
Mas no conhecimento, pouco estudo.
Entregue desde novo ao bom trabalho,
Das lutas tão ferrenhas dessa vida;
Defeitos, sim, os tenho, mas não falho.
Nos erros que forjei vital guarida,
E procurei na fé, um agasalho,
Pra desfrutar da estrada mais florida.
Douglas Alfonso
*FORMA E CONTEÚDO*
Um metro e sessenta de altura,
Atlético corpo e moreno;
Com olhos castanhos, sereno
Nos gestos que inspiram brandura...
Cabelos em cachos, fartura;
No rosto o sorriso tão pleno
Atrai feito um ímã ameno
Amantes da boa leitura...
Conserva no peito as verdades
Que estima em princípio e, atento,
Livrando-se das próprias grades
Liberta-se em versos no vento
Que traz e devolve as saudades
Com todo o seu jeito e talento.
Ricardo Camacho
*PERFIL*
Pele morena, magra, riso fasto
Cabelos "claros", lisos, na cintura,
Às vezes, novo tom se configura,
Maquila e dá realce ao fio gasto.
Repele a falsidade e o que é nefasto
no curso que destila a nódoa impura;
Verdades traz consigo e, com mesura,
Reverencia o amor e deixa o rasto.
Plantando o bem, a vida vai seguindo,
Ascética na fé, o dom insiste;
Nas asas da poesia, descobrindo
A luz que alumbra o ser e coexiste
Neste retrato que ora interagindo
Eis Aila, em quem um tanto de arte existe.
Aila Brito
*RETRATO*
A falsa magra de cabelo escuro,
pele morena e riso assaz vibrante,
olhar castanho com gentil semblante,
resplandecendo o ardor em bom futuro!
A voz que clama sempre rompe o muro
ao se dispor em oração constante.
Da vida se intitula a boa amante
e corta o atalho no caminho impuro!
Assim, na fé, a sua crença canta,
no dia a dia busca ser feliz,
com benquerença e simpatia tanta.
E a vida simples com fervor bendiz,
da experiência e amor prefere a manta,
e a vil moeda não lhe faz matiz!
Geisa Alves
*AUTORRETRATO*
*(Imitando a Bocage)*
Sou gordo, olhos castanhos e moreno,
Mal servido de pés, de pouca altura,
Mesmo assim sou feliz, larga cintura,
Nariz de papagaio, e não pequeno.
No meu jeito de ser, sempre sereno,
Eu fujo do furor, busco a ternura,
Para, assim, enfrentar a noite escura.
Se vejo confusão, eu só aceno.
Devoto das celestes potestades,
Procuro no Carmelo o meu alento
Com leigos, com as monjas, com os frades.
Eis Luciano Dídimo, o sedento
Em fazer progredir habilidades
Para escrever sonetos a contento!
Luciano Dídimo
*AUTORRETRATO*
Dotado de beleza sem igual
Ajusto meu cabelo sobre a fronte;
Não há ninguém no mundo que me aponte
Defeitos... – Não existem, afinal!
Na pele uma textura jovial;
Meus lindos olhos miram o horizonte
Enquanto eu tiro a selfie sobre a ponte
Para postar na rede social.
Sou belo, disto tenho convicção,
Mas sei que sou deveras impreciso
Ao relatar tamanha perfeição.
Distribuindo a todos meu sorriso,
Encerro agora minha descrição:
– Prazer em conhecê-lo... Sou Narciso.
Gilliard Santos
*SINA CRUEL*
Eterno curioso da leitura,
um simples fazedor de rima triste,
sou Plácido Amaral, que não desiste,
de andar entre os jograis com compostura.
A minha tão redonda arquitetura,
herança da família que persiste,
conduz a desprezar tudo que insiste
em ter no belo alguma formosura.
Procuro ter em noites sensuais,
o amor de uma presença feminina
tal qual Bocage em versos madrigais,
Mas sei que o tempo agora determina
que encontros já me são raros demais
por tanto ser cruel a minha sina...
Plácido Amaral
*UM ESCREVEDOR DE VERSOS*
Um e setenta e dois a altura alcança,
medida desde um certo alistamento,
setenta quilogramas e briguento
na tensa relação com a balança.
Nas cores do cabelo, atroz mudança:
castanho que me implora tingimento,
pois é quarenta e sete o comprimento
da escala das idades, nesta andança.
Tocar os sentimentos me completa
e versejando em rimas exercito
a pretensão de um dia ser poeta.
Cordel, soneto ou trova? Todo escrito
assim partilha, turma tão seleta,
um pouco do perfil de Jerson Brito.
Jerson Brito
*DITAMES DO ESPELHO...*
São gotas desse extenso e verde mar
que exibem os meus olhos em vigília...
Gotejam os poemas de Cecília,
navegam pelos contos de Alencar.
O olhar, que tem por sina esmeraldar
lembranças (na memória, audaz mobília),
enfeixa, em tal paisagem, a família,
desenha em meu espelho um avatar!
As marcas do passado o espelho dita —
transforma a branca face em vivo mapa,
rebobinando o tempo feito fita.
Quem sou? Será meu rosto mera capa
tagarelando a história em que acredita?
Pois o eu que pulsa em mim do espelho escapa...
Elvira Drummond
*IMAGENS DO MEU SER*
Morena de cabelo avermelhado,
que eternamente ri enquanto chora...
Traz o sorriso largo em toda aurora,
oferta uma covinha em cada lado!
Não olha para trás, teme o passado
que suprimiu de si — mandou embora.
Adora o amanhecer que apaga outrora,
pois o hoje ainda não está manchado.
Procura renascer a todo instante,
com muito amor, nas asas da poesia
a propagar a luz de Deus constante...
Expõe no olhar um mar de cortesia.
Eis a Janete, ativa e radiante...
Acalorada até em noite fria!
*_Janete Sales Dany_*
*INSÓLITA COMÉDIA*
Não fora bom jogral, truão burlesco,
Às cortes encantando, com mesuras,
Fazendo rir diversas criaturas
Jamais se tornaria gigantesco.
Zombando de si próprio, bufonesco,
Em muito fez crescer as conjecturas
Que alicerçaram suas estruturas
Fazendo dele um gênio picaresco
Do qual herdei somente o ceticismo.
O meu perfil difere, em quase tudo,
Do mestre folgazão rei do lirismo,
Pois sou Timbira e, ainda, botocudo.
Dos europeus renego o catecismo
Expondo "du Bocage" por escudo.
José Rodrigues Filho