A rosa esquecida
“Oh! Esta flor desbotada,
Já tantas vezes beijada,
Que de mistérios não tem!
Em troca do seu perfume
Quanta saudade resume
E quantos prantos também!”
(CASIMIRO DE ABREU)
Com a mente de inquietações abarrotada,
Pelo meu bem precisava ser distraída.
Um livro abri, e eis que aos meus pés vi caída
Uma rosa, há muito morta e ressecada.
Apanhei tal lembrete de uma passada
Alegria primaveril de minha vida,
Hoje jazendo putrefata e esquecida
Nos báratros de meu cérebro sepultada.
Pergunto, então, a mim mesmo: quem teria
Me concedido este gesto de afeição?
De qual jardim foi apanhada, e em que dia?
Quem foi esta pessoa? Conjeturo em vão.
Vive, ou num túmulo já ressona tão fria
Quanto esta rosa desbotada em minha mão?