Noturno

Noite, alta noite, o silêncio é quebrado;

A música funesta principia:

O vento vem chorar sua agonia

Nas ramagens e sobre meu telhado.

Ouço a tremer – um lençol é rasgado.

E o diálogo entre os mortos me arrepia;

Ouço passadas... Deus, lá fora pia

De algum portão um gonzo enferrujado.

Também os móveis conversam a um canto

Em estalidos; ouço gritos, pranto...

A música funesta atinge o cume...

A hora, porém, logo passa, e às seis

Vai-se a noite, vem o dia; outra vez,

A música a silêncio se resume.

Rogério Freitas
Enviado por Rogério Freitas em 05/04/2021
Código do texto: T7224282
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