Noturno
Noite, alta noite, o silêncio é quebrado;
A música funesta principia:
O vento vem chorar sua agonia
Nas ramagens e sobre meu telhado.
Ouço a tremer – um lençol é rasgado.
E o diálogo entre os mortos me arrepia;
Ouço passadas... Deus, lá fora pia
De algum portão um gonzo enferrujado.
Também os móveis conversam a um canto
Em estalidos; ouço gritos, pranto...
A música funesta atinge o cume...
A hora, porém, logo passa, e às seis
Vai-se a noite, vem o dia; outra vez,
A música a silêncio se resume.