BORBOLETAS BRANCAS (11): Cebola humana
Tantas camadas, tantas cascas tenho,
Ninguém percebe quem sou eu de fato.
Deixo pedaços da minha pele ao rato,
E é nos temperos da vida que venho.
Se tentas decifrar-me nesse ato,
Provoco lágrimas, te franzo o cenho.
Fecho teus olhos e de ti desdenho;
Trancada em mim, recuso teu contato.
Sou puro simulacro em meu catáfilo*,
Minha raiz* se mascara com o prato*,
Alma da terra, sabiamente tola.
Porém, se me levares no embalo,
E deglutires-me com colo* e talo*,
Despir-me-ei a ti, tal qual cebola.
Nota: *partes da cebola