TRILHA XXX - OLAVO BILAC
*ABSTRAÇÃO*
Há no espaço milhões de estrelas carinhosas,
Ao alcance do teu olhar... Mas conjeturas
Aquelas que não vês, ígneas e ignotas rosas,
Viçando na mais longe altura das alturas.
Há na terra milhões de mulheres formosas,
Ao alcance do teu desejo... Mas procuras
As que não vivem, sonho e afeto que não gozas
Nem gozarás, visões passadas ou futuras.
Assim, numa abstração de números e imagens,
Vives. Olhas com tédio o planeta ermo e triste,
E achas deserta e escura a abóbada celeste.
E morrerás, sozinho, entre duas miragens:
As estrelas sem nome - a luz que nunca viste,
E as mulheres sem corpo - o amor que não tiveste!
Olavo Bilac
*CORAÇÃO DE BILAC*
O mergulho do olhar pelas mãos caridosas
Deste magno poeta a criar formosuras,
Enternece a minh'alma agastada de umbrosas
Sensações tão febris, memorando aventuras
Surreais e reais, por visões venturosas
Eu, leitor infantil, despertando as mais puras
Expressões num soneto em menções bonançosas,
Penetrando este céu mais adoro as figuras!
Via Láctea de dor expurgada no verso
Refletindo o ideal de metáfora astral
Do maior sonhador e, das letras, escravo!
Mas no fundo, um amor do estelar universo
Fala no coração em cantata eternal
E se torna imortal - Nobilíssimo Olavo!
Ricardo Camacho
*GRATIDÃO AO PRÍNCIPE*
Principado do verso ocupou o poeta,
espelhando o fulgor de escutar as estrelas.
Deslumbrada da graça, imponência completa,
das ideias me encanto, avivando-me ao lê-las.
Teve a pena do vate a destreza seleta.
Engendrou a beleza em uníssono, pelas,
maravilhas sem par. E eu, em sede secreta,
como eterno aprendiz, intenciono bebê-las!
Sendo príncipe, Olavo escreveu com apreço,
nos poemas deitou perfeição e desvelo.
Granjeou, com a voz dos sonetos, o céu!
Regozijo por ver a grandeza... Estremeço!
Em minh'alma reluz voz gratífica, pelo,
privilégio de ler e despir-me do véu!
Geisa Alves
*CAVALEIRO DOS ARES*
Esparramo no chão delicadas sementes
e me entrego às visões, alimentos do peito:
imagino o esplendor de luzeiros ridentes
no passeio que leva ao cenário perfeito.
Coloridos painéis enlouquecem as lentes,
faço deles o amor das promessas, enfeito
a retina de sóis, fantasias virentes
que encontrei no pudor finalmente desfeito.
Celebrizo o prazer abundante na trilha
reservada aos febris cavaleiros dos ares,
tomo assento, a sorver o bafejo, afinal.
Não consigo vencer a vontade andarilha
na medida em que serve indizíveis manjares
o retiro da musa, apesar de irreal.
Jerson Brito
*A NÉVOA DA TERRA*
Anoitece e o lirismo infinito fulgura
nas estrelas do céu suplicante - diamantes!
Há quem veja o assombroso esplendor sem ternura,
este ser persevera em viver sem brilhantes:
Na cegueira, sem paz, sem amor, em clausura...
com poréns nas ações - energias maçantes!
O luzeiro rebrilha apesar da amargura-
O Senhor do elevado oferece os instantes...
O poeta apontou o destino recluso:
O delírio do andar que despreza a presença,
acordar sem amar o que existe e enternece...
No elevado prefulge a esperança sem uso.
Recompensa que ampara a existência que pensa:
Na fluência da prece o milagre acontece!
Janete Sales Dany
*MEDÍOCRE PROFETA*
Oh! Escolha cruel, assaltante em meu peito,
Que este vate me impõe com seus versos maduros
Procurando ensinar-me um profundo conceito
Onde teimo em negar os preceitos mais puros.
Sou do Céu um feitor, paladino perfeito,
Que às estrelas dou luz em meus versos impuros,
E na Terra dou cor, sem qualquer preconceito,
Às mulheres no amor dos meus portos seguros.
Mas não nego querer dar razão ao poeta
Quando diz que eu perdi a noção dia a dia
Ao viver sem sentir o prazer das paisagens.
Sou assim, bem fugaz e medíocre profeta,
Que ao mentir, se distrai em criar fantasia
Entre a Terra, entre o Céu, no lazer das miragens.
Plácido Amaral
*PAIXÃO ESTELAR*
Lá distante, no céu, uma estrela viçosa
Cintilando em sorriso, a chamar a atenção
Refestela-se em luz, complacente, mimosa,
No desejo de ter, para si, a atração,
Do galante Senhor, que acarinha uma rosa,
Todo dia; com zelo, alegria e paixão!
... Se imagina uma flor, delicada e olorosa;
Desejosa do afeto e gentil expressão!...
Suspirava, infeliz, à procura do amor
Pela noite a vagar; distraída, partia...
Sem calor e magia, abatida, chorava!
Noutro instante, porém, pressentiu um ardor
Logo o peito entendeu que a paixão existia
- E por fim, a estrelinha, um consorte encontrava!
Aila Brito
*O OURIVES DO PARNASO*
Ao cultivar a flor do lácio em seu canteiro,
ouviu estrelas pela imensidão celeste
o ourives genial, ilustre brasileiro,
que fez da perfeição a sua eterna veste.
Numa alquimia infinda, o bardo garimpeiro
propõe-se a lapidar a joia que reveste
a essência do seu verso enquanto o mundo inteiro
se curvaria para o príncipe inconteste.
Se teve o seu soneto a glória merecida,
a prosa magistral bastante preterida
não tira dele o brilho eivado de magia!
O tempo passará multiplicando os feitos
daquele que estará por entre os mais perfeitos
no trono colossal da nossa poesia.
Adilson Costa
*CONSTATAÇÃO*
Sozinho frente àquele céu brilhante
Um jovem faz profunda reflexão...
O alpendre ventilado é seu mirante
Na noite calma e limpa do sertão.
O seu olhar encontra-se distante
Voltado para certa direção,
Olhando cada estrela cintilante
De toda singular constelação.
A perscrutar a abóbada celeste,
Caminha calmamente na calçada
Em pensamentos totalmente imerso.
Observa a Via Láctea ao longe – ao leste...
Constata que os humanos não são nada
Além de um grão de areia no universo.
Gilliard Santos
*O CÉU QUE PULSA EM MIM...*
Lindo céu na lembrança está trancafiado...
Vez por outra, libero a abóbada celeste
e gracejo, a sorrir, num tom aveludado,
pois de estrelas pontilho o véu do meu Nordeste.
Enxergar o luzir? Quem foi predestinado
à cegueira que nega as cores deste agreste,
quer liberta a canção tolhida qual pecado,
por direito refaz o brilho que a reveste...
As estrelas estão na luz que brota do olho,
neste céu que contemplo em frente ao próprio espelho.
E ninguém roubará o brilho que contém...
As fagulhas espalho e, nelas, me recolho,
expandir e abraçar — a sina que aconselho,
Luz que emana de mim, que sirva a ti também.
Elvira Drummond
*DIÁLOGO ESTELAR*
Perscrutando num céu estrelado, e sem lua,
Solitário rapaz em langor procurava,
Entre estrelas brilhando a que mais lhe agradava,
Crendo, enfim, que a mais bela, a luzir, fosse a sua.
Precavido por ser permutado, na rua,
Numa troca infeliz que, a rigor, o levava
Ao revés, outra vez, pois a sorte o frustrava,
Eis que Sírio, formosa, emergiu alva e nua,
Confrontando a beleza em Astéria - auta deusa
Estelar, que, do Olimpo, autoriza o final
Da magia que dava esperança ao varão:
Aguardando a sanção outorgada por Creusa.
Deprimido constata o dorido sinal
De que não haverá, no seu céu, sedução.
José Rodrigues Filho
*A NOIVA DE BILAC*
Quando morreu Bilac, Amélia, em seu tributo,
Rosas do amor ardente espalhou, sem desdouro.
E, por décadas, fez, num sentir impoluto,
Do túmulo do poeta, o seu ancoradouro.
Na mão esquerda, a aliança, orlada em friso de ouro,
E, nela, esmalte preto assinalando o luto,
Com as iniciais do amor imorredouro,
Desde a morte do amado, em cada vão minuto.
No peito, um medalhão... e a foto desse amor...
Amélia de Oliveira – a musa sem retoque!
Mulher e poetisa em renúncias completas...
“Marília de Dirceu” da Rua do Ouvidor,
Naquele Rio antigo e boêmio – a “belle époque”,
Eterna noiva foi do “Príncipe dos Poetas”!
Marcelo Henrique