FALTA ESPAÇO
A cadela agoniza na avenida;
tem as tetas de leite pra filhote.
Criminoso a motor tomou-lhe a vida,
com a fúria a ter nada que a derrote.
A cidade cinzenta segue à lida,
pra que a força, jamais, de vez se esgote,
na manhã que se encobre, reprimida
pelo horror à verdade e seu serrote.
Passarinhos gorjeiam tristemente,
inspirando pesares de ar escasso,
como se pressentindo o fim à frente.
A cadela defunta é um embaraço
a sangrar na calçada feita à gente.
Tanto humano morrendo... Falta espaço.