ATIVIDADE: SONETO SÁFICO - TEMA CARNAVAL

CARNAVAL E NOSTALGIA

No carnaval de antigamente havia

o sentimento de alegria pura,

a plenitude da feliz ventura,

de transportar, no coração, poesia.

À Colombina, um Pierrot dizia

da eternidade de um amor, a jura,

com o semblante a transbordar ternura,

na madrugada, no raiar do dia.

O encantamento que existia outrora

transfigurou-se num turismo agora,

em lucrativo simulacro, enfim.

Na serpentina da memória resta

a nostalgia da espontânea festa,

felicidade que chegou ao fim.

(EDIR PINA DE BARROS)

MÁSCARA TRISTE

A nostalgia me persegue agora...

A exaltação descompassou na vida.

A fantasia da alegria chora

no carnaval sem emoção erguida.

Em fevereiro, na manhã que implora...

Felicidade naufragou sem ida.

O Pierrô lacrimejou na aurora.

A Colombina ficará sentida!

Coronavírus assolando o mundo...

A prostração no coração que inundo

com enxurrada de saudade infinda...

Da madrugada ornamentada, linda,

que apresentava a liberdade em luz,

recapitulo, segurando a cruz...

(JANETE SALES)

ANTIGOS CARNAVAIS

Inda me lembro... A Colombina, linda,

rodopiando a provocar desejos,

eu – Arlequim – numa paixão infinda,

deliciando-me a mandar-lhe beijos...

Lá do outro lado do salão e em pejos,

o Pierrô, sofrendo em vil berlinda,

arrependido em sua triste vinda,

soltava olhares entre vãos lampejos!

Tenho saudades dos salões de Momo...

das serpentinas... dos confetes... como

das belas músicas, marchinhas, frevos...!

Os carnavais, hoje, não têm poesia,

nem romantismo como então havia

...Hoje a saudade é que nos traz enlevos!

(INEIFRAN VARÃO)

CARNAVAL, LAMENTO E DOR

O Carnaval padecerá no enredo?

A pandemia destruiu sem dó.

As multidões vivenciando o medo,

arrefeceram seu deslumbre em pó!

Coronavirus condenou brinquedo

a desfilar nas avenidas, só,

sem fantasias...Na garganta um nó,

e as atrações a decompor segredo!

Continuar com esperança então?

Esse planeta cumprirá missão?

Autoridades investindo em festas,

e o sofrimento escancarado em testas:

Analfabetos desconhecem nome,

e as criancinhas sem colchão, com fome!

(MARLENE REIS)

ABRAM ALAS PARA A CHIQUINHA...

Com a Chiquinha a matizar de anil

celestiando a melodia viva,

do carnaval se definiu perfil

na procissão que serpenteia ativa...

Pois a folia, ao desfilar viril

por avenidas que ornamenta altiva,

nos satisfaz a embandeirar: BRASIL —

sob os cantares verdejando oliva.

A pioneira em recriar a marcha

enaltecendo o especial cortejo,

a perpetua com os mestres-salas...

Na exibição de exuberante facha,

sob a batuta da Chiquinha, vejo

a ressonância com as “Abre Alas!”...

(ELVIRA DRUMMOND)

PS. A brasileira Chiquinha Gonzaga compôs a primeira marchinha carnavalesca da história do carnaval, intitulada “Ó Abre Alas”.

A FOGUEIRA

Enamorados, envolvidos nesta

animação de passarelas, ruas,

aproveitamos o clarão das luas,

espectadoras que o destino empresta.

O resplendor extravasado atesta

cumplicidade, fantasias nuas,

divagações multiplicadas, duas

escancaradas intenções... a festa!

Se emudecerem as canções da massa,

continuaremos sem dizer que passa

a intensidade da feroz fogueira.

Nos carnavais de antigamente e agora

celebrizamos a escassez, senhora,

da problemática de quarta-feira.

(JERSON BRITO)

SONETO DE CARNAVAL ATRAVÉS DAS IDADES.

De brincadeiras inocentes, puras,

O carnaval da meninice é feito.

Na juventude, descobertas, juras.

As fantasias de um amor perfeito.

Maturidade, ao rejeitar censuras,

Abandonando o regular preceito.

Questionamento às convenções seguras,

Na tentativa em não ficar sujeito!

Mas, na velhice, resumindo tudo,

Recordações de desusado entrudo,

A nostalgia que sutil avança.

Os festivais, as emoções antigas.

As pastorinhas fraternais amigas,

Reinaugurando o carnaval-criança.

(FERNANDO BELINO)

PAIXÃO NO CARNAVAL

Iluminaste a passarela em cores

Num carnaval de magistral folia,

Entre estandartes colossais de amores

Da vespertina pretensão que havia...

Eu desejava desfrutar sabores

E reparava em teu sorriso guia,

Conquistador na embriaguez de odores,

Que enlouqueceu-me ao provocar magia.

Lança-perfume, a testemunha forte,

Abençoou-me ao me entregar à sorte

De te abraçar, satisfazendo a vida...

E conduziu-me a te beijar na noite,

Carnavalesca e de um amado açoite,

Das serpentinas, na paixão sentida.

(PLÁCIDO AMARAL)

A MENINA DA CHUVA

Precipitou-se a procurar respingos

Que lhe escavassem as lembranças rotas.

Rememorando, ao escorrer, domingos,

As fantasias, ao vestir, marotas.

As brincadeiras de correr, os bingos,

As amizades a surgir, garotas.

E solitária, contemplava os pingos

Que nem confetes, coloridas gotas,

Que lhe molhavam o cabelo, em mechas.

Um carnaval que fermentava as uvas,

A serpentina que lhe vinha em flechas.

A bailarina descalçou as luvas,

No coração, um sangradouro, as brechas,

Que nem menina, renasceu nas chuvas!

(LUCIANO DÍDIMO)

AMOR DE CARNAVAL

As passarelas vicinais repletas

De coloridos e florais ornatos

Proporcionam visuais abstratos

E oportunizam emoções concretas.

E Colombina, a fascinar poetas

Com atributos atrativos natos...

Encantadora, em orquestrados fatos

Locupletou meu coração de setas.

No mostruário de surrados planos

Eu redecoro o meu baú de enganos

E fantasias que alimento agora.

A resguardar-me de qualquer agito,

Na desditosa solidão reflito,

Rememorando os carnavais de outrora.

(GILLIARD SANTOS)

ADEUS À CARNE

Cancelamento mais que net este ano,

Carnavalesco Madrugada Galo,

Sem o Recife e sem Olinda, abalo

De foliões sem colorido pano.

Imperatriz com a rival Serrano,

Nem a Mangueira e Beija-flor têm halo,

Sem a coroa momo-rei vassalo

É das escolas carioca urbano.

O samba-enredo: “fevereiro, não!”

O brasileiro sem a bela festa

Contagiante e da janela fresta

Deslumbramento do passado então.

Mas o festejo permanece vivo

Em cada lar, a fantasia e o crivo.

(MÁRCIO ADRIANO MORAES)

CARNAVAL

Mas, a folia clamará mormente

Aos foliões, a sensatez do agora.

A alegoria solidária ora

Aos mascarados, um louvor prudente

Na evolução da comissão de frente

Na passarela a Colombina chora

O Pierrô se dispersou na hora

Que a bateria se tornou silente.

As avenidas cantarão em coro

Um melancólico e dolente Choro

Em reverência ao displicente bamba

E o carnaval terminará por fim

Com o lamento de um mordaz clarim

Executando, pois, um Réquiem-Samba.

(PAULINO LIMA)

CARNAVAL

Pela avenida principal já vejo

Aproximando-se um vivaz Cordão.

E desfilando alegremente vão

Os foliões desse anual cortejo.

Vários passistas (se percebe) estão

Sintonizados no febril desejo

De ter nos pés, corpo e cabeça o ensejo:

Mostrar-se ao povo em sentimento e ação!

Na frente, atrás, agarradinhos, sós...

Dançam no ritmo apertando os nós,

Cantando e rindo na integral magia.

Até o mais pobre de sua casa traz

Uma bebida, a fantasia... E zás!

É CARNAVAL, EMBRIAGUEZ, FOLIA...

(PAULO VERAS)

MEMÓRIAS DE UM CARNAVAL

Eternizado, na feliz lembrança,

um Carnaval de extasiante amor...

Fantasiada em purpurina e flor,

regozijei, em brincadeira e dança!

Encorajei-te a desfazer-me a trança,

sob os olhares de infinito ardor.

E desejei sem virginal pudor,

satisfazer-te em sensual festança!

E a nostalgia me consome ainda,

ao relembrar apaixonada flama,

que clareou, resplandeceu em luz...

Propiciando-me memória linda,

que eternamente, na existência, inflama,

e em suspirada intrepidez reluz!

(GEISA ALVES)

EQUILÍBRIO

Meu carnaval era cinzento, vago...

escolas, blocos, festas... tudo em vão!

Nunca adentrei numa avenida e trago

dentro do peito o verdadeiro chão!

Fiz-me um intrépido censor do estrago,

do que eu chamava de loucura e não

da maior festa popular e afago

ao sofrimento de quem chamo irmão!

Mas nada como o tempo, sábio mestre,

a nos mostrar que a vida, tão terrestre,

é a busca infinda do melhor critério...

e se resume no equilíbrio exato,

saber dosar e por no mesmo prato,

matéria e espírito num só mistério!

(- LUIZ ANTONIO CARDOSO -)

CARNAVAL ATÍPICO

Pela avenida, desfilava a dor!...

Contagiando os atabaques - rudos,

Os tamborins e os repiniques - mudos...

Só a tristeza, despertava o ardor!

Sem espetáculo, somente o agror

Se propagava, com seus tons agudos...

Os adereços, do esplendor , desnudos;

E a fantasia destoando a cor.

Não se escutava os flamejantes risos...

Um carnaval transfigurado; assim,

Como jamais, se imaginar, podia!

Aos foliões, os delicados visos,

Que a pandemia anunciava; enfim,

- Díspar momento; uma lição, trazia -

(AILA BRITO)

7434-CARNAVAL EM PANDEMIA-Sáfico

-

O carnaval sempre marcou festejo:

velhos entrudos portugueses dantes;

um mascarado, fingidor desejo,

punha nos braços os gentis amantes.

-

Dois mil vinte e um, na Pandemia vejo

rosto tristonho, sem usar corantes,

boca escondida, a prevenir bocejo;

na solidão preferiu ler Cervantes.

-

Pierrot morreu e Colombina viu

triste suspiro, ao despontar do dia.

Ela o traiu, não resistiu ao psiu...

-

Com fantasia recortada, chora!

Arrependida, sem amor sofria....

A enlouquecida desprezou a aurora.

-

Silvia Araújo Motta

Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO
Enviado por Academia Brasileira de Sonetistas ABRASSO em 27/02/2021
Reeditado em 10/10/2021
Código do texto: T7194480
Classificação de conteúdo: seguro
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