A CANÇÃO DO ÓVULO &+

A CANÇÃO DO ÓVULO I – 16 NOV 2020

Uma vez a cada mês, por trinta anos,

um possível ser humano amadurece,

mas no momento final em que aparece,

célula-mãe se tornou dos desenganos!

Causa podia ter sido dos afanos

da gestação que para a vida desce,

de nove meses em constante prece:

que alvo não seja de maiores danos!

Então do parto vão surgir as dores,

após a parição quase esquecidas,

desde que tudo transcorrido seja

como se espera, sem mais dissabores

e que a criança nos braços já esteja,

bocas minúsculas que devem ser nutridas!

A CANÇÃO DO ÓVULO II

A adolescência da mulher é demarcada

pela estranha ocorrência da menarca,

que seu ingresso na vida adulta abarca,

a sua infância para trás deixada.

Desde essa data será acompanhada

por esse sangue que a morte demarca

do possível ser humano que uma Parca (*)

chamou tão cedo, ignota a sua morada.

(*) As deusas que calculam a vida humana.

E assim prossegue sua menstruação

que muitas julgam verdadeira maldição,

até que seja alcançada a menopausa,

não realmente para a mãe, porém de fato

para o pequeno ser destino lato,

que não vingou sem nem saber a causa!

A CANÇÃO DO ÓVULO III

Sempre se soube que somente a gravidez

será possível se houver fecundação;

segundo eu penso, cada pequeno irmão

direito tem à luz que o mundo fez;

infelizmente, é muito rara a vez

que algum esperma cumpra a sua missão:

a maioria não alcança a aceitação

de um óvulo caprichoso nesse mês!...

Pois faz surgir um cone de atração

e escolhe um dentre muitos candidatos,

ninguém sabe a razão exatamente

por que o óvulo decide na ocasião,

tantos milhares deixa em desacatos,

apenas um a engolir alegremente!...

A CANÇÃO DO ÓVULO IV

Só então completo o óvulo se torna

e a seguir já se começa a dividir;

milhões não servem sequer para nutrir,

serão expulsos por tal rubra bigorna;

contudo o óvulo mais e mais se amorna,

logo são dois, quatro e oito já a seguir,

o seu destino destarte a se cumprir,

sua ovulação por meses não retorna.

Triste o destino da grande maioria

desses possíveis nenês que nunca mamam,

que nem sequer vão ter concepção;

porém a vida sobrevive, que inicia

cada pequeno ovo e se recamam

de mil hormônios em cada gestação!

FESTIVAL DE ZUNIDOS – 17 NOV 2020

“AI, QUE SAUDADE QUE EU TENHO

DA AURORA Da MINHA VIDA”,

PELA DENGUE PERSEGUIDA

DE QUE JÁ NÃO FALAM MAIS!

DE UM ANO ATRÁS, NÃO É DEMAIS

SE RECORDAR, COM GRANDE EMPENHO

HAVIA GUERRA AO MOSQUITO TÃO RENHIDA

CONTRA OS VETORES DE MICRÓBIOS TÃO FATAIS!

MAS DE REPENTE, NOS SURGIU A PANDEMIA,

SE MOSQUITOS SÃO SOROPOSITIVOS;

NÃO SE DESEJA CONTINUAREM VIVOS,

AO HOSPITAL NENHUM SE LEVARIA!...

MAS DEVEM ANDAR POR AÍ, EM SUA FOLIA,

PELO NATAL ZUNIRÃO BASTANTE ATIVOS,

MAS TANTA LARVA SOFREU DA MORTE OS CRIVOS,

NO AR PROCURO UM SÓ QUE AINDA ZUMBIA!

MAS PARA TE FALAR SINCERAMENTE,

NÃO ACREDITO QUE CHIKUNGUNYA E ZYKA,

PELO MENOS AO QUE TUDO INDICA,

TENHAM SUMIDO DE NÓS TÃO FACILMENTE;

O QUE EU SUSPEITO É QUE AINDA CAUSAM MORTES,

QUE NA ESTATÍSTICA SÃO ACRESCENTADAS,

COMO SE FOSSEM POR PANDEMIA CAUSADAS,

PARA SEUS NÚMEROS TORNAREM AINDA MAIS FORTES!

A CANÇÃO DO FOGO I – 18 NOV 2020

Quase sempre eu contemplo meus verões

de dentro de minha casa, da janela;

revoa um pássaro em longínqua vela,

provavelmente atrás de refeições...

No escritório, enfrento as estações,

ventiladores giram, sem cautela

e tenho um toldo azul como uma sela

que o sol afasta das quentes incursões.

Corta muito o calor, corta-me a luz:

durante o inverno, parca luminescência

penetra pelas grades e vidraças,

mas esse tom amarelado me seduz,

durante o outono em sua calidescência,

enquanto o estio faz-me troça com pirraças!

A CANÇÃO DO FOGO II

Sei muita gente o verão até prefere

e doidamente vão à praia se bronzear,

câncer da mama ali a cortejar,

câncer do útero, que o Sol também profere!

Segundo dermaticista, que igualmente gere

câncer nos testículos e ninguém possa negar

algum alegre melanoma a te matar:

com leucemia quiçá ainda te fere!...

Nos negros causa a terrível Anemia

Falciforme, muito mais do que nos brancos,

o “câncer negro”, provocado pelos trancos

de quem do Sol jamais se protegia.

“Sou negro”, dizem, “o sol não me faz mal.”

Não, apenas causa em ti câncer mortal!...

A CANÇÃO DO FOGO III

Por isso, é bem maior a mortandade

provocada entre os afrodescendentes

por essa nova e insidiosa pandemia,

enfraquecidos já se achando, na verdade!

Canto a canção do fogo sem maldade,

espero convencer possa alguns crentes

a evitarem esse bronzeado que iludia,

trazendo a morte tal solaridade!...

Quanto a mim, evito o quanto posso,

à rua saio de mangas compridas

e minhas bermudas eu só uso em casa,

especialmente agora, nesse grosso

infectar das criaturas enxeridas

que à morte oferecem cada vaza!...