UM SONETO DESREGRADO
Para o poeta Herculano de Alencar
Estive à espera um tempo imenso
Que um desbravador abrisse a senda,
Ainda assim me sinto um pouco tenso
Que um soneto assim não tem na venda.
Não sei se é um erro o que eu pretenda,
Nem se consigo dizer o que penso.
A ideia louca, com rimas compenso,
Contanto que o meu desejo atenda.
Vou criar um poema tresloucado,
Na forma de um soneto desregrado,
Tanto que fica um terceto devendo.
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O que agora escrevo é só um adendo,
Desculpas por verso tão debochado
Que o leitor só acredita vendo.
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Inspirado nesta maravilha de soneto do poeta
Herculano de Alencar:
Às favas com o rigor das regras
Eu escrevo o que sinto e o que não sinto.
Eu escrevo o que penso e o que não penso.
Eu descrevo o pequeno e o imenso.
Eu descrevo o extenso e o sucinto.
Eu escrevo a verdade. Às vezes minto.
Eu escrevo a mentira e, se preciso:
um verso a se encontrar num paraíso
e um verso a se perder num labirinto.
Procuro a poesia em todo canto,
qualquer seja o modo. No entanto,
debulho o meu poema, bem ou mal:
um soneto sem pé e sem cabeça,
que não faça questão, nem obedeça
o que manda o rigor gramatical.
Herculano de Alencar