CARRASCO E ESCRAVO
A ausência indefinível, que angustia
e, renitente, dói, corrói, maltrata,
enxerta ardor de madrugada fria
em minha saga infértil, inexata.
A artéria medo aumenta e se dilata
no mais profundo, ao imo em agonia,
estoura, espalha o visgo que delata,
em minha cara, o peso covardia.
Tal fosse um delirar, de tanta sede,
acorrentado, os olhos à parede,
ouvindo aguar nascente farta e aflita...
Sedento aos dias, cego de horizontes,
sou ácido que seca as próprias fontes
e escravo do carrasco que me habita.