Madrugada
É madrugada! Meu olhar no teto
A procurar por fantasmas de mim;
Vago por meu pensamento incerto,
Espero a noite chegar ao seu fim.
É madrugada! Fiel companheira,
Dos meus anseios, cúmplice leal;
Entender-me talvez eu não queira
Pois só fere o nosso mundo real.
É madrugada! Dorme a cidade...
Cruzo sem rumo minha Avenida,
Sinto crescer uma louca ansiedade...
É madrugada! Que posso eu fazer
C’essa insônia e saudade maldita
Que só faz aumentar o meu padecer?
Aquarela
Pinto sua imagem em minha mente;
Afagos ternos... Palavras versadas...
Pincelo em mim tua estrela cadente;
Caminhos retos... Rimas sussurradas...
Rascunho em relevo o nú de teu peito;
Sua paisagem... Matas alforjadas...
Pincelo também teu sorriso estreito;
Sua pura alma... Linhas alternadas...
Com o pincel dos dedos sigo teu olhar;
Pinto suas flores... Madrugadas...
Esmaeço esse seu jeito de amar.
Em cada toque traço uma carícia;
Em um alto relevo aspirado
Pinto seu jardim só de delícias.
Qualquer rumo...
Para onde vou nesses meus vagos dias
Quando o tédio atiça minha abulia?
Qualquer rumo... Esse será meu destino,
Minha passagem e meu desatino.
Para onde vou nesses meus vagos dias
Em que o tempo rouba-me a alforria?
Qualquer rumo... Pouco já me importa;
Quero sair leve por aquela porta.
E voar como um pássaro voaria,
Muito além do horizonte infinito;
Ah! Na cama do outono eu dormiria.
E com as folhas novas eu sonharia
Para esquecer essa minha tristeza;
Ah! Então qualquer rumo eu tomaria.
FADO
Para esses meus fantasmas do passado,
Travessos que vivem a me cismar,
Ergo meus braços quase num traçado
E ordeno que fiquem lá a dormitar.
Não... Sei que já não quero mais lembrar
Que as escolhas ditaram o meu fado;
Fado tão triste!...Oh!Deus!... Nesse vagar
Sobra-me uma cruz no ombro a carregar.
Minh’alma é uma terra seca e tão fria!
D’uma aridez que é capaz de matar.
Oh! Fado! Quanto essa vida é vazia!
Sei que somente eu sou a única culpada;
Já não importa mais gritar altos brados;
Sou um ramo só, pelo vento levada.
Porque partiste?
Porque partiste gêmea alma minha?
E porque assim tão cedo desta vida?
Ah! Eu fiquei tão triste e tão sozinha!
Sem ti estou me sentido tão perdida!
Mas conforta saber que ao céu subiste,
embora tenha doído a despedida...
E se no etéreo céu outra vida existe,
tu vives e já não sinto abatida...
Mas ficou nossa casa tão deserta!
E tudo aqui fala de ti meu amor
E tu me fazes tanta, tanta falta!...
Mas preciso continuar... matar essa dor
Que me dilacera e me faz tão incerta!
Ah! Só quero a lembrança que te exalta...
Imagens: google. (cinderela)
Essa é mais uma série de meus sonetos. Esses fazem parte dos primeiros sonetos que criei na vida e fazem parte do volume SONETOS AO VENTO. Portanto são criações antigas minhas que não tinha postado aqui ainda. Como estava aprendendo ainda, não consegui acertar a métrica não. Hoje em dia, tento mais fazer isso mesmo com dificuldade. De modo que nem sei se posso chamá-los de soneto. Enfim... Falta, se não me engano, mais duas séries para postar