Noche lúgubre
“Objeto antiguo de mis delicias… ¡Hoy objeto de horror para cuantos te vean! Montón de huesos asquerosos… ¡En otros tiempos conjunto de gracias! ¡Oh tú, ahora imagen de lo que yo seré en breve!”
(CADALSO)
Até que de suor ficasse empapado,
Pelejando com a pá em hercúlea lida,
Cavei a sepultura recém-construída
Da cruel amante que me havia enjeitado.
Tão linda achei-a com seu rosto descorado,
Ainda mais do que o era quando em vida;
Beijei-lhe a boca – um tanto azul e enrijecida –
E fiz amor com seu cadáver, extasiado!
Finalmente, então, pude eu aproveitar
Por umas poucas horas de um ínfimo dia
O que instou ela por anos me recusar…
E digo-vos: tamanha foi minha alegria
Que os guinchos dos morcegos a reverberar
De pássaros o gorjear me parecia…