SONETO MALDITO

SONETO MALDITO

Aconteceu naquele maldito lugar

No bilhete ao Satã teve a escrita

Veio o anjo da foice pra reclamar

Um terço da população proscrita

Padre João desabou na incursão

Atrás do incauto povo da Serrota

Sem crer na implacável maldição

E fanatismo de gente tão devota

No bilhete amaldiçoado ao capeta

Ao terceiro dia visto na ampulheta

De infarto quem o lesse ia embora

Descobriu que o autor era senhora

Desconfiado da mãe ficou o vigário

Morreu na esperada hora, solitário

Marco Antônio Abreu Florentino

Soneto inspirado no excelente, instigante e surpreendente conto escrito pelo amigo Ayala Gurgel intitulado ¨O Bilhete do Diabo¨, que conta a saga do Padre João, vigário de uma paróquia isolada da cidadezinha rural de Serrota, na qual vem ocorrendo mortes em condições idênticas: Infarto fulminante às três horas da madrugada após exatos três dias da vítima ter lido um misterioso bilhete.

O conto se desenvolve sem revelar o conteúdo do bilhete, porém, a população assustada sabe quem o escreveu: uma habitante do povoado que enriqueceu e se mudou para a capital por detestar as pessoas do local. Corria o boato que tinha feito um pacto com o diabo vendendo-lhe a alma por uma botija.

Muitos anos depois se arrependeu e resolveu apelar para uma contra proposta com o demônio: levar trinta e três almas para o inferno num prazo de seis meses, seis dias e seis horas (666), contanto que a pessoa lesse de forma espontânea e inocente o bilhete misterioso. Assim ela se livraria da maldição. O demônio concordou.

Quando o vigário chegou na localidade, presenciou a trigésima primeira morte nas mesmas circunstâncias... seu sacristão que tinha lido o bilhete para uma analfabeta.

Abalado, Padre João começou a desconfiar da sua mãe, nascida no povoado, mas tendo se mudado para capital por detestar seus habitantes. Na concepção do padre, ela teria enriquecido após receber uma herança.

Resolveu viajar para encontrá-la e esclarecer suas dúvidas, entretanto, esta era noite do terceiro dia que tinha lido o bilhete. Morreu solitário às três horas da madrugada.

No final do conto, o conteúdo do bilhete é revelado.

Parabéns por mais esta joia literária Beto (Ayala), digna, guardando as devidas proporções, das obras do gênero como ¨ Fausto¨ de Goethe e nossa tão conhecida ¨O Auto da Compadecida¨ de Ariano Suassuna.

Desculpe ter revelado todo o texto com o surpreendente final.

Publiquei esta postagem no meu site: marcofloren.recantodasletras.com.br

A seguir, O SONETO DO DIABO:

Meu Soberano Senhor do Inferno,

A ti, que as almas danadas governa

E cumpre tua parte na promessa,

Ao teu horrendo nome venero.

Na hora do teu prêmio reclamar,

Atenda o pedido que foi proposto,

De acrescentar almas ao teu tesouro,

E levar trinta e três em seu lugar.

Sou teu como neste verso está dito,

Minha guarda e proteção hei de baixar,

De minha parte o pacto é consentido.

Se a vida daquele miserável poupar,

Na tua hora sagrada o tempo atingido,

Leve minha alma em seu lugar.

https://youtu.be/FVYBALfN4k4

(Serafim e Seus Filhos - Ruy Maurity)