TRILHA XXVII - A DOR DE UM POETA - DECASSÍLABO IBÉRICO
* A DOR DE UM POETA *
"Os versos que fiz, com muita alegria,
Te peço jamais fazer releitura"!
Nas rimas cantei, versei na euforia
Do amor que sentia, a minha ventura...
Porém, se perdeu aquela magia,
O afeto sumiu, desfez-se a ternura;
Aquele sentir, o brilho perdia!
... Enredo final - 'romance em rasura'.
A dor que restou e trago no peito,
Na chama do amor, delira ofegante,
Perdido no ardor, distante, sem jeito!
Do sonho fugaz, sensível e atroz,
Somente ficou o brado vibrante;
Na ode do amor - afônica voz!
- Aila Brito -
* CANÇÃO DO CORAÇÃO *
Deitado ao luar, na noite estrelada,
um verso compôs o exímio poeta.
Chorou sua dor, intensa e completa,
rogando com fé a volta da amada.
Palavras de amor — canção dissipada —
descansam na luz da noite seleta.
E o vate infeliz, lamentos enceta,
na busca sem fim, no vento, no nada...
A dor sobejou na voz e no canto,
deixando, no olhar, tristeza, portanto,
ardor a ferver no peito do amante!
E canta a emoção de um sonho distante,
o verso de amor, tristonho, infeliz,
na pena e papel do eterno aprendiz!
- Geisa Alves -
* AS DORES DO POETA *
A dor de arrancar o seu sentimento,
A dor de calar o grito no peito,
A dor de parir o verso rebento,
A dor de saber do mundo imperfeito.
A dor de buscar em vão o talento,
A dor de rasgar o verso desfeito,
A dor de jogar palavras ao vento,
A dor de esquecer o verso no leito .
A dor de escrever e nunca ser lido,
A dor de escapar a ideia na rima,
A dor de falar sem ser entendido.
A dor de um amor jamais esquecido,
A dor de perder a sua autoestima,
A dor de morrer sem ter persistido!
- Luciano Dídimo -
* CALVÁRIO PERPÉTUO *
O bardo contempla o instante hodierno,
Também o passado, enquanto o futuro,
Nem sempre feliz - _supremo esconjuro?!_ -
Em sua existência imersa no inferno...
Revolve a emoção dorida, no escuro
Vazio de si, lançando ao caderno
O seu coração, em cântico eterno,
N'atroz solidão de fel nascituro!
E em meio ao soluço espalma, sentido,
As mãos de poeta ao peito e, perdido,
Pressente sofrer as dores do mundo
Gemendo ao versar, em síntese triste,
O Amor com horror - Será que ele existe?! -,
Perpétuo plangor... calvário profundo...
- Ricardo Camacho -
* O VATE, A MUSA, A DOR *
O vate ao cair à tarde, em tristeza,
Lembrou-se que tem a musa na mente,
Lembrou-se que o amor por ela é fraqueza
Que faz seu pavor voltar de repente.
Não sabe o torpor, por pura torpeza,
Que não versejar, só torna em doente
Aquele que faz da musa, a certeza
De tê-la outra vez, em versos, presente.
Soturno ao cantar, na noite, a poesia,
O vate não viu que a musa entoava
A triste canção que a sua euforia,
Brotando em fulgor, do peito emanava,
Tentando dizer que a própria alegria
Chorava de dor e não escutava...
- Plácido Amaral -
* CARÊNCIA *
Acordo e desperto o antanho perverso,
componho a canção do pranto infinito,
a lágrima expõe o orvalho no verso,
censuro a aflição, coitado do grito!
A dor amargura o amor do universo,
e sei do querer onusto de atrito.
Escrevo conversa e nunca converso...
do lado, a escassez, nem verso recito!
Procuro a ilusão dormente no peito:
Alguém sequestrou a paz do poeta.
A boca carmim e a língua no jeito.
A pele sedosa, o cheiro de rosa,
e ainda de longe expõe indireta?
Maldita que fere e segue alterosa...
- Janete Sales Dany -
* AS ROSAS DO POETA *
Na noite afligente, adentra a procela
no quarto e me traz mortífera bruma,
sorrisos carcome, os olhos esfuma,
soprando cruel poeira na cela.
As horas se vão e fuga nenhuma
encontra o pesar até que a janela
da insânia se acende, o luto debela,
devora o plangor, delírios empluma.
A falta sentida o canto alivia:
estendo um jardim na cama vazia,
alfombra do olor, beleza e doçura.
O peito se rende às rosas perfeitas
trazidas por ti enquanto me enfeitas
de luzes, saudade, alívio à tortura.
- Jerson Brito -
* A DOR MAIOR DE UM POETA *
A dor de um poeta enfrenta amargura
em tom diminuto, entregue ao encanto...
Poeta matiza a cor que perdura —
aviva alegria e enlaces, garanto!
Afina a palavra, ao som que depura,
e vibra no alento e enlevo do canto.
Enfim, o poeta inventa uma cura,
que a escrita desfaz tristezas e pranto.
Mas há uma dor que engasga na voz —
o canto emudece, efeito veloz!
Branqueia o papel... Ideias? No zero.
E clama ao Senhor: — Jesus, eu espero
palavras à mão, manejo da pena...
Sem nada a dizer, vagueia... Que pena!
- Elvira Drummond -
* O BAÚ DO POETA *
Reviro o baú de velhos escritos
e em minha procura encontro o poema
de um jovem poeta. E o sério dilema
de pôr em seu verso o amor em conflitos.
As frases mais vis, retórica extrema,
rogando a seu par caminhos malditos,
nascidas por vez de amores benditos
erguidos no altar por ânsia suprema.
O antigo poema em versos, rimado,
num canto qualquer ficou esquecido
faltando em seu corpo um simples terceto...
E o velho baú de tampo quebrado,
jogado num canto, há tempos perdido,
a espera do fim de um lindo soneto!...
- Edy Soares -
* AS MUSAS E O POETA *
A lágrima desce enquanto rabisca,
Palavras assim, _amor e saudade,_
O lápis na mão, percorre em verdade,
No branco papel, choroso nem pisca.
Com versos febris, profundos, se arrisca,
No aumento da dor, fiel crueldade,
Constante emoção, o pranto lhe invade,
Os dias ruins, há muito petisca.
A culpa de tudo ; o amor verdadeiro
Sentindo-se então, de fato um herdeiro,
Do ardor da paixão, bradando com fúria.
Igual ao Camões, que fez Dinamene
A musa perfeita e amante perene...
Talvez ao Bocage, e sua Gertrúria.
- Douglas Alfonso -
* AS EMOÇÕES DO POETA *
Mantêm-se guardada a dor que matura;
Mas, logo em seguida, o peito a deporta
E então deverá passar pela aorta,
Trilhando um caminho ardente de agrura.
O tal menestrel um verso costura
Mas logo desiste... excêntrico, aborta
Aquela missão. E a dor se transporta:
Nas veias se espalha... amplia a tristura.
O tempo se esvai; o vate se empenha
E fica aguardando, até que lhe venha
Um magro soneto... assim que possível...
Quaisquer emoções ou dores que sinta
No estágio final, transformam-se em tinta
E são do poeta o seu combustível.
- Gilliard Santos -
* DESCASO LETAL *
Aflito o Poeta amargo temia
Que o dom de rimar, soberbo milagre,
Outrora licor, mas hoje vinagre,
Ousasse mostrar em vil pandemia.
Espera a vacina e, enfim, harmonia,
Que a tênue esperança o alerta deflagre
E o audaz Butantan aqui se consagre
Vencendo a "covid" e sua agonia.
O tempo se esvai, por falta de ação,
E o povo a morrer porque a negação
O vírus taxou de baixa potência.
Geral desespero em toda nação,
Porém não ocorre a vacinação
E o Vate penando a atroz leniência.
- José Rodrigues Filho -
* CICATRIZES *
E chora o poeta ao vir que jazia
aos pés do seu sonho a vida ultrajada,
que o pranto não mostra a noite estrelada,
nem mesmo à saudade a voz silencia.
E segue o poeta em busca do nada,
enquanto contempla a face do dia
e o lenço outra vez de luto cobria
os passos febris de sua jornada.
E faz do poeta o inútil vilão
na lápide branca, enquanto o caixão
sepulta ofegante as suas lembranças,
depois que contempla a foto de outrora
nas trevas sutis que apagam a aurora,
que espera encontrar, algures, bonanças.
- Adilson Costa -