RASTOS
À noite, à cama, o dia ausente vai-se embora;
o amanhecer que vem o assusta, de ignorado;
ai, quanto mais escapa ao medo, mais se enrola;
até que o enfado, arfando, o abate no cansaço.
E na seguinte aurora, a planta, rindo, enflora,
brilhante em viço, a rosa ao céu ensolarado;
e, displicentemente, a vida cantarola
ao tempo que flui brando, amenamente abraço.
Surpresas surgirão, afoitas, repentinas,
violentas e sutis, ou prenda ornada em fitas.
É inútil esperar vivência sempre ilesa.
Difícil entender que é tudo instável, rasto.
Tal contemplar estrela, à beira de um penhasco,
ou ter, às mãos, a caça e, após, tornar-se a presa.