MATA-ME, PURO AMOR, MAS DOCEMENTE - José Albano
Mata-me, puro Amor, mas docemente,
para que eu sinta as dores que sentiste
naquele dia tenebroso e triste
de suplício implacável e inclemente.
Faze que a dura pena me atormente
e de todo me vença e me conquiste,
que o peito saudoso não resiste
e o coração cansado já consente.
E como te amei sempre e sempre te amo,
deixa-me agora padecer contigo
e depois alcançar o eterno ramo.
E, abrindo as asas para o etéreo abrigo,
Divino Amor, escuta que eu te chamo,
Divino Amor, espera que eu te sigo.
© José Albano
in: Rimas, 1948 (póstumo)
_________________________________
José de Abreu Albano (Fortaleza, 12 de abril de 1882 — Montauban, França, 11 de julho de 1923) foi um poeta brasileiro.
Neto dos Barões de Aratanha, estudou no Seminário daquela diocese, depois em colégios religiosos da Inglaterra, da Áustria e da França; mas é no Brasil que inicia o curso de Direito que não conclui, dedicando-se, posteriormente, ao ensino no Latim. Teve ainda uma breve carreira no Ministério das Relações Exteriores, que viria também a abandonar para viajar pelo mundo. Poliglota, escreve em francês, inglês e alemão, mas, como lembra Manuel Bandeira, "tão versado em idiomas estrangeiros, prezava como ninguém a pureza do vernáculo".
Como o Parnasianismo tinha uma feição algo clássica, tal constatação levou alguns estudiosos a incluírem José Albano nesta Escola. Manuel Bandeira, depois de julgá-lo fora "dos quadros da poesia brasileira", levanta a questão: "Todavia, alguma coisa em sua poesia soa à corrente poética do tempo em que ele viveu. Esse tempo era o Simbolismo. Pela espiritualidade de sua inspiração, pela musicalidade de sua forma, pela sensibilidade por assim dizer outonal de seus versos, é dentro do quadro simbolista que melhor cabe a sua singular figura.