Soneto do flâneur em tempos de pandemia
Na bela avenida reta e nebulosa,
A luz da via as trevas suaviza
E só um pouco o pesar ameniza,
Nestes tempos de vida desditosa.
Um só carro, em viagem cautelosa,
Leva um jovem e sua Mona Lisa,
Sob cuja máscara o enigma desliza,
Mas insinua a face mais formosa.
Ah, jovens, ao amor que a tudo impera
A eternidade o louva com a espera –
Da transcendência, o maior galardão!
E assim ando e, num átimo, não vejo
A sedução longe de meu desejo,
De medo incógnita na solidão.