TRILHA XXV- TRISTEZA - RITMO BINÁRIO SEM METAPLASMOS

*UM RIO POR MINHAFACE*

Na noite tão tristonha dos meus dias,

Procuro disfarçar meus ideais;

No peito reboliços hibernais,

Traduzem no meu céu manhãs tardias...

Palavras divagadas, tão vazias,

Distando sóis dourados faciais,

Vertendo gotas - muitas - glaciais

Despetalando risos e magias,

Num rio que jorrou por minha face!

Promessas vãs, fatais ao desenlace,

Deságuam por um mar, brutal, postiço;

Arrastam sonhos, deixam cicatrizes,

Levando-me por falsas diretrizes,

Na vil tristeza, sem luar, sem viço!

Aila Brito

*A BUSCA*

Percebo que propôs em meu serviço

Talvez assim parando com marasmo

Nos trouxe só verdade, fico pasmo,

Então, em tal vertente, vou, atiço,

A verve singular, o reboliço,

Contudo, venho sem trazer sarcasmo,

Também deixei de lado metaplasmo

Trançando versos mil em meu cortiço.

O pranto da tristeza corre solto

Nascendo nova trilha, mar revolto,

As gotas desse pranto fez o mar.

Nos resta navegar por águas turvas...

Por entre tais abrolhos tanger curvas,

Na busca perenal de nos curar.

Douglas Alfonso

*OLHARES*

Olhares tristes são dicotomia

Num mundo que sorri, naturalmente;

A grande sombra dessa pandemia

Crescente vai na coletiva mente...

Conservo, só, senil economia,

Em mim, a sustentar daqui pra frente

A minha chama, flébil alegria,

Os olhos dizem bem o que se sente...

O quadro da plangência nos olhares

Reflete solidão, tal como mares,

Somando mais e mais a deserção...

Onipresente bradam os pesares,

A transformar em tristes bulevares...

Fotos nos versos deste coração.

Ricardo Camacho

*VERSOS TACITURNOS*

Procuro compreender o meu vazio,

completo de palavra vã, silente.

Tristeza que corrompe minha mente,

traduz o meu monólogo sombrio.

Eu tento decifrar, me desafio,

Moída pelo luto permanente.

Meu verbo, tão calado, tão dormente,

em lágrima, transforma-se num rio.

Deságuam os meus versos taciturnos,

mitigam minha sede, meu lamento,

por bálsamo fugaz à minha dor!

Tristonha, meus vestidos são noturnos,

ornados por pesar e sofrimento;

mazelas dessa vida sem amor!

Geisa Alves

*O LADO VILÃO DO MAR...*

O mar, sem a menor diplomacia,

Com fúria traga sonhos, engolindo

A paz, a luz, a voz da cor macia,

Lambendo, grão a grão, um plano lindo...

A língua, de sagaz espuma fria,

Detona meu desenho que, se findo,

Sucumbe com areia — quem diria!

O sonho recupero? Nem cerzindo...

Tangendo para longe meu elã,

Desfaz a vida numa só manhã.

Soberba tão extrema traz o mar...

Se faz superior — qual universo!

Nem sabe que diante deste verso,

Integra verbo bem maior: aMAR!

Elvira Drummond

*ESCURIDÃO*

É triste ver a luz querer fugir

Da triste residência num momento,

É triste relatar qualquer lamento

No triste turvamento que surgir.

Maior tristeza faz o lar sentir

O breu, matiz escura do tormento,

Trazendo com pavor, pressentimento

De que dali, jamais irá sair...

Escuridão! Por que querer ficar

Criando nessa casa nostalgia

Nas noites fustigantes, sem luar?

Por que prover à mesma, poesia

Do vate mais sombrio do lugar,

Teu companheiro nessa pandemia?

Plácido Amaral

*LÁGRIMA DA VIDA*

Saudade brada — lágrima da vida,

escorre deste céu sem liberdade,

vontade reprimida, luz perdida...

Ó Deus, brutal verdade só invade!

O sonho descorou na dor ferida,

sem sol morreu nos becos da cidade.

Em meu rancor o desamor trepida...

Formando desmedida tempestade!

Replanto perfeição — a flor pureza.­­

O chão tristeza não expõe beleza,

parece que debocha dessa graça.

Amor sem esplendor, a vida passa...

Olhar sem cor que nada mais procura,

no tempo sufoquei a minha cura!

Janete Sales Dany

*O FOTOGRAMA*

Deitado nos destroços, prepondera

o rastro de desgosto transformado

nas passageiras luzes da sincera

saudade, lenitivo festejado.

Abrigo nas entranhas da quimera

aquele fotograma desbotado

porque matiza minha primavera

a genial parceira deste fado.

As cores alimentam a porfia,

enfeitam ilusões do mendicante

que trilhas perigosas desafia.

Emerges da penumbra sufocante,

trazida pela súplica tardia

do sonhador, contrito caminhante.

Jerson Brito

*DOLOROSA SINA*

A lágrima dorida, relutante,

Escapa feito pingo que, sozinho,

Provoca desespero no caminho

Daquela que perdeu o seu amante.

Tristeza se traduz em tal semblante

Ferido pelo dolo, qual espinho,

Sugando todo resto do carinho

O qual lhe dava rosto cativante.

Agora que se foi seu belo sonho

O mundo fica sempre mais tristonho,

Mas novo bem precisa pra sanar

A dor pungente; retomar o viço...

Embora saiba que nenhum feitiço

Impedirá seu fado de chorar.

José Rodrigues Filho

*RELATÓRIO*

Não vi nenhuma lágrima flagrante

A transitar a tua tez macia.

Teu rímel, teu batom e teu semblante

Sugerem que transbordas alegria.

Tu segues com teu jeito cativante

Nas ruas exalando poesia...

Na brisa, teu cabelo rutilante

Parece locupleto de magia.

Fiquei a contemplar tua beleza

E fiz um relatório mui preciso,

Em níveis de profunda sutileza.

Por fim, com estes versos preconizo

Que constatei vestígios de tristeza

Recônditos por trás do teu sorriso...

Gilliard Santos

*CAPRICHOS DO TEMPO*

O tempo se transforma no juiz

que busca perdoar qualquer pecado,

se faz presente pelo seu passado

na forma da mais branda cicatriz.

Deveras nos confunde, quando diz:

depende sempre de qual for o lado

que seja na visão considerado

podemos ser na vida mais feliz.

Perdoa, comumente, sem cobrar

as vãs promessas feitas ao luar:

resquícios das lembranças, nada mais.

Enxuga prantos pelas nossas faces,

sepulta todos nossos desenlaces

que foram no passado tão mortais!

Adilson Costa