GUARDEI MUITO DE MIM ENTRE OBJETOS CORTANTES

guardei muito de mim entre objetos cortantes

duvidando da lâmina e fazendo pouco do gume

tratando meu próprio sangue como perfume

queimando no talho da carne agonizante

guardei muito de mim entre objetos cortantes

para que talvez me cortassem

ou, melhor, me contassem

o que fiz de bom e de mal em cada um daqueles instantes

e o que fiz foi o que bom me pareceu

tanto que me adoçou a boca

e me embriagou o sistema

nem notei se meu corpo padeceu

padece agora e não parece coisa pouca

já que não se manifesta sem que eu trema