VOGAIS
A preto, E branco, I rubro, U verde, O azul: vogais,
contar-vos-ei um dia seus partos latentes:
A, preto corset de varejeiras fulgentes
que pairam em torno de pútridos locais...
Golfos de sombra; E, cândidas tendas presentes,
lanças de gelo, reis brancos, flores reais;
I, sangue cuspido, belos lábios mortais
riem na cólera ou em porres penitentes.
U, ciclos, vibrações divinas dos verdes mares,
paz dos semeados, paz das rugas solares
que a alquimia imprime na fronte um adeus.
O, supremo Clarim cheio de traços dispersos,
silêncios velados por Anjos e Universos:
— Ó Ômega, os raios roxos dos Olhos Seus!
* * *
"Voyelles", soneto original escrito em 1871 pelo poeta francês Arthur Rimbaud.
© Tradução/adaptação por Ismael Marck, 2020
* Apesar das várias traduções existentes deste soneto, resolvi apresentá-lo aqui a minha tentativa de trazer uma adaptação fiel ao original, tanto na combinação rímica como na métrica.