Dupla fenda
Ao mesmo tempo que te anelo o olhar,
de graça divinal e de ternura,
eu temo o naufragar da arquitetura
do amor que construí – tão grande é o mar!
Almejo contemplar teu ser e amar
teus íntimos segredos com bravura;
sinto, porém, troar tua estrutura
sobre meu coração, que é teu altar.
Amo-te. E, proferindo tal sentença,
dois turbilhões simulam-te a presença;
um como bálsamo, outro como dor;
e estouram no meu peito de uma vez,
num golpe só, na mesma solidez:
dois modos de sentir o mesmo amor.