TRILHA XXIII - CLIMA NATALINO EM GALOPE NA BEIRA DO MAR

*VALSA NATALINA*

Valsando, louvemos o Cristo Menino

Com címbalos, tímpanos, todos em SOL —

O tom que aludimos à luz do divino!

Jesus nos norteia — brilhante farol...

João, no Evangelho, ao ditar tal ensino:

Jesus — missionário vestido de sol,

Instiga o soar do clarim, do violino;

Gorjeio de cuco, azulão, rouxinol...

Também compartilha o compasso ternário:

Pardal, curió, sabiá e canário.

Na valsa celeste jamais faltará

Anjinhos tocando flautim, maracá...

Humilde, me esforço: dedilho a celesta.

Que o céu me perdoe a cantiga modesta!

Elvira Drummond

*CRIANÇAS NO FAROL*

Eu vi num farol criancinhas pedindo

Algumas moedas que fossem sobrar,

Já era Natal...refleti me inquirindo...

Será que elas tinham comida no lar?

Não pude assistir, simplesmente sorrindo,

Aquela tragédia maldita no olhar,

Senti a vergonha no peito surgindo

E a mim, consumindo naquele lugar...

Preciso entender falsidade e maldade

De até no Natal existir crueldade

Que teime agredir totalmente a visão,

Prefiro as crianças, sadias, com pão,

Com pés nos calçados e roupas decentes

A vê-las nas ruas, sem luz... sem presentes...

Plácido Amaral

*PRESENTE DIVINO*

Fitava a vitrine, a menina franzina....

Queria a boneca bonita enfeitada.

Porém percebia o impossível na sina.

Jamais poderia, as mãozinhas no nada!

Natal de tristeza, a pobreza que mina.

Frieza do inverno, o viver na calçada.

Jamais alegria, comida e vacina.

Dormiu no desejo da prenda encantada...

E logo cedinho, acordou... a surpresa:

Nas mãos a boneca, morreu a tristeza...

O Eterno ofertou o presente divino!

Surgiu no horizonte o alarido do sino.

Um moço sorriu e sumiu num segundo–

No amor de Jesus que caminha no mundo!

Janete Sales Dany

*ERA NATAL!*

Reflito o momento em que vi um menino -

Semblante tristonho, de riso acanhado,

Sozinho, carente, de olhar pequenino,

Dizendo: - A pobreza me torna o culpado?

A cena marcante daquele franzino

Pegando um biscoito no supermercado

E o guarda gritando, garoto malino;

Te prendo, e em seguida, te levo ao juizado...

Da minha lembrança, jamais se apagou!

O pobre menino, chorando, exclamou:

- Senhor, me socorre da sede e da fome!

- Jejuo, por dias, e a dor me consome;

- Oh! Moço, me dá, de Natal, o perdão!

E o guarda o abraçou, e chorou de emoção!

Aila Brito

*DESEJO DE NATAL*

Tristonha, a menina pensava consigo...

Já era Natal, mas não tinha presente.

Na rua, sem pão, sem família ou amigo,

A vida era ganha com unha e com dente!

Pequena menina queria um abrigo,

Aberta, uma porta; um caminho somente.

Viver na calçada era um hábito antigo,

Fazia das noites perigo frequente!

Guardava um desejo a menina franzina...

Fugir do desgosto, da dor, da chacina.

Queria viver uma vida normal!

Seria, por fim, todo dia Natal!

Veria o luar através da janela,

E não da calçada, seu lar, sua cela!

Geisa Alves

*VERSOS DE NATAL*

O mês de dezembro carrega a alegria

Presente em pessoas, um ciclo se encerra;

Contrastes nas dores dos tristes na guerra;

No pobre mendigo, de noite e de dia,

Que vaga perdido em castelo de terra;

Nas órfãs crianças Jesus irradia

A Luz protetora servindo de guia

E ao mundo, em verdade, em verdade, descerra!

Obreiros atentos se inspirem no Cristo,

Lembrando do amor verdadeiro, bem quisto,

A chama de Deus que reside, imortal,

Em todo o universo e em seus filhos num misto

De benção total, refrigério previsto

De causa e de efeito a sentir o Natal!

Ricardo Camacho

*NATAL CAPITALISTA*

E vem o Noel, desse mundo moderno,

Dizendo, rou rou, e vendendo de tudo,

Promete na venda, vender conteúdo,

Com bela gravata bem posta no terno,

Por ver tais promessas então me consterno

O nosso natal de Jesus foi desnudo

O seu brilhantismo ficou sem escudo

O mundo virou um covil, um inferno.

Cadê os festejos das noites brilhantes?

De quando faziam as festas gigantes

Porém, festejavam em nome de Deus.

Relembro choroso garbosos momentos

Crianças brincando sem ter ornamentos

Que vendem mentiras, valores adeus.

Douglas Alfonso

*OS PASTORES E OS ANJOS*

(Lucas 2, 8-20)

Nos campos, à noite, pastores tomaram

Um susto ao surgir-lhes um anjo contente.

"Nasceu-vos o Cristo, em Belém, felizmente".

A boa notícia, na glória, escutaram.

Em meio aos pastores, os anjos louvaram:

"A Deus nas alturas, a honra inerente,

Que a paz se derrame na terra ao temente".

Ao reino celeste, depois retornaram.

Pastores correram em rumo a Belém

E acharam Jesus, o divino troféu.

Maria e José, encontraram também.

Contaram o anúncio do anjo lhes feito

E a festa dos anjos descidos do céu.

E tudo Maria guardava no peito!

Luciano Dídimo

*MESA DESFEITA*

Inúmeras luzes resplendem no teto

da casa, refúgio de antiga irmandade,

singelo cenário em que a fausta cidade

parece isolar um concílio secreto.

Erguidas em volta daquela orfandade,

colunas guarnecem com ferro e concreto

o drama infligido, as penúrias do veto

à vida decente, à bem-vinda igualdade.

Pretenso tributo ao Sagrado Menino,

o véu noturnal de fagulhas se enfeita,

banquetes pululam, presentes também...

Queriam sentir o prazer natalino

aqueles coitados da mesa desfeita

que, todos os dias, na rua mantêm.

Jerson Brito