TRILHA XXII - MEDO

*O MEDO*

E o medo ao propagar-se em alma aflita

Sufoca plenamente o pensamento,

Deixa a razão sem área circunscrita,

Destrói a fé de isento ao sofrimento...

Consegue sobrepor-se ao seu tormento

Ao se indispor à causa favorita

Que tem no amargo fel, procedimento

Em ver que com a dor, inabilita...

Por que provar terrível exagero

Em ter no medo angústia pertinaz

Ao ponto até de em grave desespero,

Buscar um terminal sagaz, fugaz,

Respirando o pavor, tenaz tempero,

Do prato derradeiro em sua paz?

Plácido Amaral

*RECONSTRUÇÃO*

Na casa escura o medo me consome.

Fará o quê, agora? Mais castigo!

Persegue e quer dizer aquele nome,

coloco as mãos no ouvido e assim prossigo...

Os cômodos tristonhos sentem fome,

em cada quarto entesto um inimigo.

Senhor, conheço a sanha, nunca some,

ressurge bem de longe, inferno antigo!

Passado que me segue num querer,

minou a minha infância e quase o ser!

Às vezes quer roubar a claridade...

A vida sempre encontra a liberdade,

refaço o pensamento dia a dia....

Pois Deus me ergueu na paz da poesia!

Janete Sales Dany

*FOBIA*

Instinto que conserva quanto aterra,

Por ele a obediência desordena

No excesso e um labirinto forma a cena

Cercando o ser, perdido, nesta terra!

A consciência encolhe e se condena,

Sofrente, reconhece a grade, a guerra

Eclode e a tropa de fantasma berra

Penalizando quem criou a pena.

Em resultado, após o silogismo,

Confirma a dor de um metafisicismo

Daquele crânio em dardos, desde cedo,

Atravessado no suplício oculto

E faz do quadro "O Grito" o próprio insulto,

Reconhecendo em si gigante medo!

Ricardo Camacho

*ESCURIDÃO E LUZ*

Quis o destino que eu crescesse destemido,

Forjando, assim, meu peito, escudo rijo e forte!

Fui muito cedo entregue à minha própria sorte

nas lutas que travei, nas quais nunca abatido.

E esse guerreiro bravo, altivo de tal porte,

derrotas já provou, mas foi fortalecido

porém se curva sempre a um medo sem sentido

pois, teme a escuridão bem mais que a própria morte.

Meu pai, a um terapeuta, um dia, quis levar-me

e eu disse, então que a Fé que anima o humilde crente

precisa ser mantida, e pura, sem alarme!

Para que livre, enfim, dos medos, que são seus,

também entenda o mundo insano, simplesmente,

sem distanciar de si, jamais, o Amor de Deus!

Edy Soares

*MEU MEDO MAIS MEDONHO...*

O medo sempre integra a nossa vida...

Por vezes, enxovalha ação e sonho.

Porém, jamais será por mim perdida

A chance de enfrentá-lo, então me exponho!

Ainda pequenina, em minha lida,

Sabia, em pesadelo ardil, medonho,

Que o mal, no canto e conto, consolida

Perigos que acautelam, eu suponho...

A bruxa, o lobo, o monstro, em forma de ogro,

Na infância, o medo traz com fé robusta;

Se adulta, os tais assombros vêm, nos puxa...

Vencida, vi de perto o lobo e o logro,

Mas medo de fracasso não me assusta...

Meu pânico é saber que sou a bruxa!

Elvira Drummond

*NEGATIVAS EMOÇÕES*

O medo está no gen da humanidade,

Também no DNA do não humano,

Por mais que isso pareça ledo engano

Tem nos servido como habilidade.

Os homens primitivos, na verdade,

O cortisol usavam se, algum dano,

Pudesse interromper o sobre humano

Desejo de viver pra eternidade.

Atende, prontamente, à negativa,

Porém, imprescindível emoção,

O hormônio adrenalina, enfim, ativa

O rápido sistema de aflição.

Viver, com medo, assusta, mas motiva,

É parte elementar da evolução.

José Rodrigues Filho

*O MAIOR MEDO*

Fugaz se faz a vida, assim vivemos...

No início, um arrebol na caminhada,

O tempo vai mudando essa jornada

Às vezes nem querendo percebemos.

Se formos perspicazes muito vemos...

Porém, conter visão iluminada,

Nos traz riquezas sim, contudo, nada...

Perece tudo então, se nós morremos.

Daí que nasce o medo pavoroso...

Os dias de um passado glorioso,

Sucumbem ao pegar vital transporte.

Assim podemos ver a humanidade

Altiva, digo até temeridade...

Com tal palavra que é a horrenda morte.

Douglas Alfonso

*PÂNICO NA MADRUGADA*

Em meio a madrugada acordo aflita

Ao perceber, sem luz, ao derredor;

O rosto, encharca todo de suor,

Meu coração, em pânico, palpita,

Meu pensamento, sofredor, se agita,

Criando um quadro torpe, e bem pior,

Deixando a boca seca, efeito mor

Do imenso medo - causa da desdita.

Na noite escura, eu sofro essa fobia,

Minutos infinitos, de agonia...

Meu peito se contorce em aflição;

Clamo a meu Deus, em busca de uma luz,

O dia chega, e salvo-me da cruz;

E logo, a paz, me acalma o coração!

Alia Brito

*TENHO MEDO*

Na luz do sol nascente, em novo dia,

Tento aquecer-me em raios de otimismo,

Pois nossa sociedade insana e fria

Avança a passos largos para o abismo.

Eu vejo a face podre do racismo

E manifestações de homofobia...

Engorda-se a cadela do fascismo

Perante olhares fixos de apatia.

Andando pelas ruas da cidade

Enxergo a mais cruel desigualdade:

Crianças a dormirem sobre o chão.

Eu tenho medo e indago: na verdade,

Para onde, então, caminha a humanidade?

Que mundo os nossos filhos herdarão?

Gilliard Santos

MEU MEDO

Presente em todo dia, sempre um medo,

Que invade a minha mente, desatina.

Temor que a vida seja uma rotina,

Repleta de mesmices e arremedo.

E busco desvendar o tal segredo,

Da vida que não seja apenas sina.

Tentando em minha aspiração divina,

Fazer do meu desejo um belo enredo!

Não há em mim maior assombração,

Do que viver a vida sem viver!

Deixá-la discorrer diante de mim!

Por isso peço sempre em oração,

Que a morte não despeça, então, meu ser,

Até que eu viva todo meu festim!

Geisa Alves

*BRAMIDOS INFERNAIS*

Palmilho negridão desconhecida,

refúgio de bramidos infernais

e encaro numerosos pedestais

que cercam a missão endurecida.

Encontro na esperança desmedida,

levada nos caminhos virginais,

a chama que alimenta meus fanais

em direção à glória pretendida.

Tropeço, canso, aturo ferimentos,

insisto, a contrapor os argumentos

de quem dispensa escudos... E troféus!

Se os medos fazem parte da viagem,

nenhum gigante vive na contagem

de um lutador movido pelos céus.

Jerson Brito