Soneto niilista (Apagão, Amapá, 2020)
Nada acontece, como um barranco existo.
Sinto sentar-me a alma de preguiça ou pena.
Sobro ao universo; sou entre um ralho e isto;
do ócio que me dura, só esta brisa acena.
Me tornei do mundo um abalroamento.
Me trocaram por lenha deste fogão de canto.
E se me paira à beira um sono ao pensamento:
"pudera a esperança cair num dia santo".
Cáspita! por Dante! que inferno!
Eu tinha andado inteiro antigamente!
E cá às paredes dos capítulos me interno.
Me tocaram o sentimento ao gado.
Ando que sinto assim feito que sente
que sou da sombra um corpo apeado.