TRILHA XX - TETRÂMETRO TROCAICO COM UM CRÉTICO
*O TREM...*
Thuco, thuco, thuco... segue atento ao trilho.
Curvas só desenha, caso indique a rota.
Vejo e verso a cena, só no olhar pontilho.
Todo o belo campo seu milagre arrota.
Thuco, thuco, thuco, canta em estribilho.
Saltam verdes anos — dentre o verde brota.
Meu passado pulsa os ecos bons que empilho.
Ver a infância é dar no tempo cambalhota.
Thuco, thuco, thuco, todo mundo escuta.
Lembro o nosso canto tal e qual compus.
Prosas, riso, olhares, toques, sã permuta...
Thuco, thuco, thuco, ao novo o trem conduz.
Tudo escuro, fica o tato, a busca, a luta.
Vai o trem parando na estação de luz!...
Elvira Drummond
*NOS TRILHOS DA VIDA*
Sou um trem, fumaça branda, rumo em frente,
Firme e forte, sem parar, no próprio brilho,
Passo aperto, mas sorrio sobre o trilho,
Linhas duplas de aço, tudo o que se sente...
A viagem segue... vaga a minha mente...
Verde mata, céu azul... no olhar pontilho
Mais e mais o enorme mundo, sou o filho
Livre para o verso vivo e, aqui, presente!
Eu, poeta, flerto só enquanto um sonho
Simples paira sobre mim, condor tristonho
Que, parado, nunca voo... pobre lida,
Mas, versando, rego a flor deste destino
Pelo embalo de uma história que eu assino
E o soneto nasce neste trem da vida!
Ricardo Camacho
*RUMO AO PORVIR*
Olho o trem que segue os trilhos rumo ao Norte!...
Linhas tortas, curvas graves, vão cedendo;
Deixam sonhos, pela estrada - sem suporte,
Viram pó... quimera ao vento, se perdendo!
Segue!... Assim, também trilhando a sua sorte,
Muita gente pela estrada, descrevendo
Retas frias, dobras tortas... no transporte,
Suas metas, vão sumindo, desfazendo
Seus desejos, caem pelo chão, se espalham!...
Ânsia louca, pelos sonhos - que ora, falham,
Trazem dúvidas; porém, melhor seguir
Cada etapa, num balanço bem gostoso:
Fé, coragem, num sonhar feliz, ditoso.
- Segue o trem... piuí... em busca do porvir!
Aila Brito
*TREM DE TODOS*
Este trem que vem de longe cessa a vida,
já levou alguém que adoro e todo o sonho,
quando chega, logo impõe e não convida,
chora o moço, o idoso... até o amor risonho!
Tenho medo não desejo a dor sentida,
há o solo fundo, o adeus, pavor medonho,
fujo, escapo desse trilho da acolhida,
rezo o terço, e de joelho, só me ponho!
Tem destino e tem espaço pra levar,
dentro dele, história honrosa feito o mar,
trem de todos, noite e dia, o laço aberto...
É surpresa, nunca sei o instante certo,
vem e para... assusta quando diz o já!
Muita gente, num partir, saudade dá...
Janete Sales Dany
*UMA VOLTA*
Vou rever a minha terra mais querida
Ver as pedras pelos rastros onde andei,
Ter a paz batendo à pele tão curtida
Pelos anos sendo autor da minha lei.
Eu saí do lar dos pais, da farta vida,
Por não ter do próprio céu a luz que olhei,
Por querer chorar demais a fé perdida,
Por talvez sentir no escuro a dor que armei...
Uma dor criada pelo orgulho fútil
Amplo até em ter a voz madura e forte,
Tanto firme, tanto aguda, quanto inútil...
Mas, feliz, na volta tensa à minha história
Feito um gume sem perder seu duro corte,
Vou pisar no chão que tive alguma glória.
Plácido Amaral
*VERSOS SESTROS*
Fui buscar aquém da minha própria mente,
Um recurso para dar razão à vida,
Pude ver co'a alma aflita, e tão sentida,
Três desejos muito nobres pela frente.
O primeiro foi tornar-me forte crente,
Tendo fé no escopo desta breve lida,
Ser afável, nunca abrindo vã ferida,
Pondo em risco nossa frágil paz latente.
Ter prudência dá respaldo pra o segundo;
Meu terceiro tem que pôr amor no mundo,
Vou buscando tal anseio até o fim...
Fica claro, nestes versos ora armados,
Ser possível ter, em tese, já montados,
Loucos planos pra trazerem glória a mim.
José Rodrigues Filho
*EFEITOS*
Danças, simples danças, um balé das flores,
Vento, sopra vento, faz soar farfalhos...
Range cada folha, rolam por atalhos,
É conforme vejo, são sutis primores.
Um pomar belíssimo, há singelos galhos,
Tão frutificados, soltam bons olores,
Colho boas frutas sinto seus sabores
Tendo tal natura, sem provar os malhos.
Sons em muitos tons, vibrando para mim,
São as aves belas desse bom jardim,
Com sonoridade cantam belos hinos.
Eu ali ouvindo, as notas mais vibrantes,
Sinto em mim fulgores, por razões brilhantes,
É o nosso Deus, e feitos tão Divinos.
Douglas Alfonso
*LÁ VEM O TREM*
Veja! Ao longe vem surgindo o trem veloz
Entre as matas...Vem cortando a densa bruma!
Vem correndo sem ter dó ou pena alguma
Faz, nos trilhos, muita vez, papel de algoz.
Lá na curva - feito fera, assaz atroz –
Quase entorta seus vagões, mas logo apruma...
Toma a reta... Vem de novo! E agora ruma
Para o Norte: vem de encontro a todos a nós.
Sobre o estrado um grupo aguarda aqui, parado.
Não importa se homens maus ou homens bons:
Todos têm o seu destino já traçado.
Vem soltando gris fumaça o tal transporte.
Seu apito joga aos ventos altos sons!
Vem chegando o tão temido trem da morte.
Gilliard Santos
*SALVE, MADEIRA-MAMORÉ!*
Todo herói possui guardada força inata
para ver algozes mortos quando erguida
uma sombra em seu caminho, a ser vencida
pelos braços, alma e pés: "Jamais se abata!"
Fez sucesso a tropa audaz naquela lida,
bela saga escrita a sangue em meio à mata
e, entre nós, festeja sempre quem resgata
grande garra entregue à luta, insana vida.
Muitos homens junto ao sonho, ao tempo, à sorte
hoje provam essa história, nossos bravos:
por dormentes foi forrado o chão do Norte.
Traço a cena, um vivo ardor seduz, deleita:
teus vagões, comboios, trilhos, tantos cravos,
linha férrea, em Porto Velho musa eleita!
Jerson Brito
*A DANCINHA DO MÃOZITO*
Vem Mãozito, vem chegando, sem cansaço,
Vem sorrindo, vem feliz em seu balanço.
Ele chega já tomando todo o espaço,
Vai tirando todo mundo desse ranço.
Ele ensina a sua dança passo a passo,
Vai pescoço, gira fácil, nesse avanço.
Vai esquerda, vai direita, nesse traço,
Nesse embalo, vira a noite sem descanso.
Vai ombrinho, para baixo e para cima,
Para um lado e para o outro, vai bracinho,
Vai cintura, em seu gingado, faz o clima.
Vai joelho, vai descendo, sem ter pressa,
Vai subindo, sem soltar o seu copinho.
Vem Mãozito, vem dancinha, quem vai nessa?
Luciano Dídimo