VERSOS PERTURBADOS
Passa em tropel febril a cavalgada
Das paixões e loucuras triunfantes!
Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes!
[Florbela Espanca]
Qual vela acesa num altar sagrado
Eu queimo na penumbra do teu sonho,
Sou o teu desejo casto e malogrado,
Teu medo taciturno e mais medonho.
Comigo teu eu demente e perturbado,
Perpassa cada verso que componho…
Sou teu chamado ébrio e desastrado,
Teu sono mais febril e mais bisonho!
És o meu canto louco em pensamento,
Soluço delirante em cada ouvido,
O grito emaranhado no tormento,
Quimera horrenda e sem sentido.
Das ânsias cruas sou teu sacramento,
Da doce angústia minha és o aldeído.