TRILHA XVI - SONETOS AO SONETO

*A UM POETA*

Dizer que o próprio verso é limitado

Demonstra um gesto franco de humildade,

Por mais que alguém, em nome da amizade,

Declare à nossa lavra pleno agrado.

Por certo, sempre é bom ter o cuidado

Em se buscar a suma qualidade.

Ser sonetista é mais que ter vontade,

Exige longo e duro aprendizado.

Cuidemos, pois, de um pouco, a cada dia,

Buscarmos as lições dos ‘manuais’,

Visando mais e mais sabedoria.

Saber um pouco além nunca é demais,

Principalmente quando a poesia

Retoma a perfeição dos "Imortais".

Fernando Belino

*SONETO*

Na forma, seus quatorze versos fazem

A síntese perfeita de uma história,

Enaltecendo o vate, em sua glória,

Que em rimas se deleitam, se perfazem,

Modulam a canção que os ritmos trazem,

E em cada inspiração satisfatória,

Derrama as emoções na trajetória,

E os sentimentos, todos, se comprazem.

Cuidemos, para não sair da métrica,

Nem a sonoridade destonar;

Mantendo o talhe e a lírica isométrica.

E nesse compromisso, literal,

Aos imortais, possamos agradar,

Findando num poema escultural.

Aila Brito

*EM NOME DOS ANTIGOS*

Ao lapidar os versos, somo amigos

E, juntos, no lirismo de grandeza,

Criamos jóias raras, com certeza,

Em nome da Memória dos Antigos!

Por essa comunhão não há perigos,

Singrando o mar em busca da proeza,

Nas ondas vão meus versos com beleza,

Cantar a vida e a mágoa dos jazigos!

Tatuo o Estilo Clássico na pele

E espanto o Modernismo que repele

Rigor exuberante e seu efeito...

Banhando-me no mar que me compele,

Nem que o Moderno Vento de hoje apele,

Converterei-me, sempre com respeito.

Ricardo Camacho

*CARCEREIROS*

Embala meus sentidos a fluência,

amigo sonetista, dos cantares

que eriges nessas obras lapidares,

nascidas de uma rica inteligência.

Afaga-me os ouvidos a cadência,

a simetria acende meus olhares

e entregam regozijo os belos pares

de rimas, em perfeita equivalência.

Confesso afinidade com rigores,

sem enxergar, porém, qualquer vantagem

em permitir que sejam repressores.

Exalto o verso posto em carceragem,

atento à sua essência, aos seus dulçores:

a forma é sempre escrava da mensagem!

Jerson Brito

*JOIA RARA*

São tantas rimas falsas, pés quebrados

e tanta coisa escrita em versos brancos;

podem ser belos, mas sejamos francos,

são simplesmente versos agrupados.

Quando a leitura sai aos solavancos

e a métrica é imperfeita e sem cuidados,

vê-se os poemas tão desajeitados,

feito animal ferido andando aos trancos.

Sonetos, são Sonetos!... Obras primas!...

E muito mais que o metro, os sons e rimas

há que fechá-los bem, com chave de ouro.

É feito quando o ourives que prepara

o anel de inigualável pedra rara,

o guarda como quem guarda um tesouro!

Edy Soares

*LINHAS DO SONETO*

Se temos dois quartetos, venham rimas...

Entrelaçando os mesmos, fielmente,

Os versos fluem tão serenamente,

Iguais a diamantes, que obras-primas.

Após os oitos versos, vem à frente...

Os outros dois tercetos, grandes climas,

Estão finalizando com estimas

Em forma singular, também plangente.

Heroico, Sáfico ou talvez, martelo...

Estilos, mas, me digam qual mais belo?

Assim, direi o meu, aqui prometo.

O belo para mim, "a poesia"

Porém, se vê glamour, com harmonia,

Nas linhas preciosas de um Soneto.

Douglas Alfonso

*TEUS VERSOS, SONETO*

Ao te escrever, converso a sós comigo,

Comungo o meu prazer de ser poeta

E pondo em tuas frases, meu abrigo,

Quatorze vezes tento ser profeta.

Jamais te ter, soneto, é meu castigo

Mas sim, feliz desejo e minha meta

De ouvir-te num sussurro sem perigo

E apreciar poesia tão seleta.

Teus versos são meus beijos mais plurais

Doados para alguma musa tida

Em berços onde sejam bem frontais...

E vejo assim, soneto, a minha vida

Nos teus pequenos sons que são fiscais

Da mais feroz paixão por mim sentida.

Plácido Amaral

*NO PALCO: O SONETO!*

Ao pôr em evidência tal soneto,

Acendem-se holofotes na ribalta.

Momento ao qual a escuta sobressalta

O corpo estrutural — qual amuleto!

Desfile de quarteto e de terceto,

De rimas e de acentos — uma malta

Que ampara, que acoberta e que ressalta

Cadência conduzida em “allegreto”.

A pura melodia reverbera

Soando indefinida que, na espera,

Me atenho intensamente em um viés:

Prevejo, deslumbrada, uma harmonia,

Em gozo a ressoar com euforia,

Na escuta, compassada sob os pés!

Elvira Drummond