DOS AMORES TERRENOS
No ano da graça da liberdade dessas terras,
quando o rubor era comum entre as faces moças,
houve jovem de bons modos e feições severas,
orações aos lábios e furor sob as roupas.
Jamais, entretanto, tendo um só mal passo dado,
quiz o diabo que a virtude à sarjeta fosse.
Mandou-lhe um cavalheiro, dos confins buscado,
nobre e belo canalha, de fala culta e doce.
Deu-se que em certo baile em casa de gente boa,
ao apagar das luzes, no descuido das senhoras,
perdeu-se a virtude bem às margens da lagoa.
Mas digo:Diabo, alcançou intento, por que choras?
É que mais vale a virtude dada em amor são,
que o abrasado fingimento do fervor da oração.