DOS AMORES TERRENOS

No ano da graça da liberdade dessas terras,

quando o rubor era comum entre as faces moças,

houve jovem de bons modos e feições severas,

orações aos lábios e furor sob as roupas.

Jamais, entretanto, tendo um só mal passo dado,

quiz o diabo que a virtude à sarjeta fosse.

Mandou-lhe um cavalheiro, dos confins buscado,

nobre e belo canalha, de fala culta e doce.

Deu-se que em certo baile em casa de gente boa,

ao apagar das luzes, no descuido das senhoras,

perdeu-se a virtude bem às margens da lagoa.

Mas digo:Diabo, alcançou intento, por que choras?

É que mais vale a virtude dada em amor são,

que o abrasado fingimento do fervor da oração.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 22/10/2020
Código do texto: T7093184
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