TRILHA DE SONETOS XV - TEMÁTICA: SACRILÉGIO
*SACRILÉGIO*
Cinéreo céu, que a tua dor retém,
Num mar de crises, brutas e indomáveis,
Nos sofrimentos, crus e intermináveis,
Que em tom marsala flui e pulsa, advém
Das impurezas, d'alma, que convém
Profanar leis, e as artes memoráveis,
No falso 'credo', os atos imputáveis,
Fere a moral, e a tudo contravém.
Feridas tais, são chagas do pecado,
Ofensas duras, contra o Pai Eterno.
Ao sacrilégio, é vã, toda desculpa!
Arrependei-vos, ou será fadado,
A merecer o fogaréu do inferno!
"Tua consciência, lembra a tua culpa"!
Aila Brito
*O MERCENÁRIO*
Na acústica medonha - Deus! - exclama
O ator, em vã lamentação patética;
Fitando aquela forma torta e estética,
Eu vi a cena de um inferno em chama!
Volúvel líder no tablado clama,
Retórica prolíxa de exegética,
Arcano de alquimia e essência herética,
Coberto de moléculas de lama!
... E ali, num canto belo do cenário,
Testemunhando aquele mercenário
Sugando a doação da fé alheia
Estive com a fé raciocinada,
Filosofia bem intencionada,
Em viva prece aos lindos grãos de areia!
Ricardo Camacho
*RUGIDOS*
Mergulham na pureza de um sorriso
olhares embebidos no pecado
que chega sorrateiro e, sem aviso,
devora o sonhador atordoado.
O raciocínio atônito, impreciso
rodeia maravilhas no reinado
das luzes, dos ardores, paraíso
com toques de doçura preparado.
O gáudio que me torna um homem pleno
nem posso disfarçar e me condeno
perante os tantos mimos possuídos.
Ao sacrilégio dobro meu insano
instinto animalesco e te profano
no imaginário cheio de rugidos.
Jerson Brito
*O FIM NO FINAL*
É triste ver um cérebro fundido,
Pastoso, no cadinho efervescente
E tudo que continha, aquela mente,
Virando caldo quente diluído.
Depois de destilado e ter subido
Por serpentinas, restará, somente,
As cinzas, dessa massa inteligente,
E seu total saber terá sumido.
Não tem sentido a escolha na partida,
Nem mesmo um cabedal legando à vida
Se o corpo vai pra terra ou cremação...
Certeza alguma! Tudo desconhece:
Pressente, enfim, que não valeu a prece...
Viver na Terra foi fugaz paixão.
José Rodrigues Filho
*A BARCA DO INFERNO*
A mesma mão que tão solenemente
Consagra as oferendas sobre o altar,
Às vezes, traiçoeira, infelizmente,
Pratica a exploração em vez de amar.
Buscando a salvação, a humilde gente,
No templo, a luz divina vai buscar.
Não desconfia, em nada, do ambiente,
E encontra a falsidade em tal lugar.
Se o sal perder de todo o seu sabor,
Insípido estará, sem mais valor,
Será jogado ao chão; castigo eterno.
Assim, também o falso sacerdote
Que, tal serpente, espreita para o bote.
Terá lugar na Embarcação do Inferno.
Fernando Belino
*O SACRILÉGIO*
Existem muitos tipos de pecado.
O primeiro é o pecado original,
que desde o paraíso trouxe o mal,
Mas desse ninguém pode ser culpado.
Existe o que é bem leve, o venial,
Que não precisa nem ser confessado.
Mas outro nos exige mais cuidado,
O pai dos sete vícios: capital.
Pior os que golpeiam mandamentos,
Chamados de mortais, são bem mais graves,
Causando a nós e aos outros, desalentos.
No meio desse triste florilégio,
Um deles tranca o céu a sete chaves:
Manchar o que é sagrado, o sacrilégio!
Luciano Dídimo
*FÉ NOCIVA*
Assim que amanhecia, o atrito urgia
e em mim erguia o medo da tormenta.
Viviam apagando a luz do dia,
a fé nociva em cada voz sedenta.
Berravam na certeza, fantasia,
oravam sem sentir o que alimenta,
o céu jamais alguém alcançaria,
só elas, ilusão... paixão cinzenta!
Herdei na tenra idade uma lição:
Ao ver o insulto contra a crença alheia...
Dali o bem se afasta... ofensa em vão!
Andejo e vejo ainda o preconceito,
e ao ver somente vem o que chateia,
a dor é de um punhal que rasga o peito!
Janete Sales Dany
PLANETA DO EXPURGO
Não acho plausível tampouco normal,
pensar que este mundo com tanta miséria,
revele uma saga, uma sina progéria,
de um povo que encuba um sofrer sem igual.
Uns poucos diferem, mas quase é geral,
pois nessa terrível visão despautéria,
parece que o sangue levado na artéria
também já carrega esse vírus mortal.
É triste e notório que desde outras eras,
são só punitivas, as crenças austeras
e para quem sofre não há taumaturgo.
Milênios se passam, a história não muda,
são tantas nações precisando de ajuda,
talvez seja a Terra o planeta do expurgo!
Edy Soares
*UM PECADOR E MINHA OMISSÃO*
Ao profanar a Bíblia sacrossanta
E difamar meu Deus com heresia,
Fez do pecado a dura alegoria
Que trouxe à sua vida, o fel que espanta.
Do pleno escárnio sujo da garganta
Que flui a voz insana e muito fria,
Deu seu relato pobre de magia
Ao me dizer que a fé não se decanta.
"Tão fútil feito o mesmo pecador,
Não fiz valer meu lado de pastor
Nem fui orar à frente de um altar..."
"Senti na minha face essa vergonha
Que arrasa minha igreja qual peçonha
Da cobra mais vulgar deste lugar."
Plácido Amaral