MENINO FEIO

CAPÍTULO I – A RECUSA

Seus amiguinhos lhe chamaram para brincar

Na bela área de lazer do nosso condomínio

E você se deu ao simples direito de recursar...

Não entendi, se antes era seu maior fascínio.

Acaso com algum de seus amigos você brigou?

Seus amigos lhe fizeram algo que não convém?

Se a coisa que você mais gosta de fazer recusou,

Significa que debaixo desse angu caroço tem.

Vamos! Conta-me! Tenho o direito de saber!

Se não posso ajudá-lo quem o poderá fazer?!

Sou seu pai. Conte-me tudo, tintin por tintin.

Deixa pra lá, pai! Eu não estou com vontade.

Olhando para você sinto que não diz a verdade.

O quê que de fato você quer esconder de mim?

CAPÍTULO II – A ACUSADA

Tudo bem! Abra seus ouvidos, pois abrirei o bico.

Isso mesmo, filho! Conte-me qual é o seu receio.

Desde de ontem que sair com os amigos eu fico

Com temor de ser chamado por alguém de feio.

Você não é feio. O que de ruim fez para alguém

Vier tratá-lo desse jeito, como um delinquente?

Nada fiz! Como senhor me ensinou, sou do bem.

Mas ouvi uma fala que me fez agir assim diferente.

Bom! Então você sabe quem lhe causa esse mal.

Vamos até essa pessoa para dar um ponto final.

Não podemos, papai! A mamãe em casa não está.

Sua mãe é ... meu filho, você não está enganado?

“Sua mãe só chegará à noite”. É dela esse recado.

conte-me que sua mãe disse, pra eu ver o que há.

CAPÍTULO III – ELOGIOS AOS AMIGOS

Pai, tenho três amigos de verdade. O senhor sabe?

Sim, um dos seus amigos tem olhos verdes e é louro.

Mamãe me diz que se há mais beleza nele não cabe,

Porque de toda beleza do mundo ele é logradouro.

Entendi! Filho, você tem um amigo negro, não tem?

Tenho sim. Ele é um amigo bastante sincero e leal.

O que sua mãe falou sobre ele? Falou mal ou bem?

Mamãe me disse que acha a cor dele sensacional.

Por ele ser gordinho e possuir na pele negro tom,

Ela falou que ele parece ser um delicioso bombom

cujo nome é Sonho de Valsa ou Serenata do Amor.

Ele não faz cerimônia. Passou, é comida, aceita.

Mamãe ao vê-lo comer tudo, fica muito satisfeita

Em saber que não haverá desperdício pelo comedor.

CAPÍTULO IV – CIÚMES

Sobre o último amigo do peito seu? O que sua mãe diz?

Que meu amigo anda muito bem vestido e roupas de grife.

Minha mãe fala que é elegante e parece ser um garoto feliz,

se fosse comprar roupas iguais a dele, não teríamos cacife.

Sobre meus amigos, minha mãe tem sempre algo belo a dizer.

Agora... para mim... mamãe só fala que me ama e mais nada.

Qualidades físicas elogiadas valem mais que amor. Vai rebater?

Não. Só sei que quando a mãe faz isso, bate uma inveja danada.

Bem, agora o senhor sabe o porquê de sair na rua tenho receio.

Se os meus amigos são assim o máximo, quer dizer que sou feio;

Logo, sendo eu o feio da turma, serei sempre alvo de zombaria.

Se você pensa desse jeito de sua mãe, o que pensará de mim?

Papai, o senhor é diferente! Não baba sobre meus amigos enfim.

Para o senhor, meus amigos são visitas e os trata com cortesia.

CAPÍTULO V – PEQUENOS HERÓIS

Já que sua mãe vai demorar chegar, vamos dar um giro por aí.

Pai, eu lhe peço para não me levar à área de lazer do prédio.

Meu filho, Você já me disse antes; olha os meus ouvidos aqui.

Vamos dar uma volta no bairro para tirar você do seu tédio.

Está vendo aquela criança sentada no portão da casa dela?

Qual pai? Aquela que tem a sua idade e totalmente careca.

Tinha tudo para viver na tristeza. A calvície é uma sequela

Do tratamento de doença grave, mas olha sua cara sapeca!

Ali papai, o senhor está vendo! Uma criança cadeirante...

O que ela está fazendo para estar assim tão esfuziante?

Pai, ela está vendo outras crianças jogarem bola na rua.

Ao passar por uma mansão, ouve-se um triste choro.

Meu filho, vá lá ver o porquê desse lamento sonoro.

É de um choro infantil cuja tristeza lá se perpetua.

CAPÍTULO VI – POBRE MENINO RICO

Menino, seus pais são donos dessa linda mansão?

O triste menino enxuga as lágrimas e diz que sim.

Eu posso lhe fazer uma outra pergunta então?

Qual é o motivo de você está chorando assim?

Você é um menino bonito, sua casa é muito linda

(pelo menos é a impressão da gente daqui de fora);

Deve ter muitos brinquedos caros... olha que ainda

Imagino seu celular; deve ser o mais moderno, ora!...

Olha, tudo o que você me disse é a mais pura verdade.

Eu estou chorando assim porque não tenho felicidade.

Tenho tudo que quero. Não posso dividir com ninguém.

Minha mãe é uma ótima médica e até super conceituada.

Meu pai, um empresário de instituição comercial invejada.

Meus pais ficam fora de casa mais do que o normal convém.

CAPÍTULO VII – MENINO SÓ

Eu não tenho irmão ou irmã e nem um amiguinho se quer.

Temendo assalto e sequestro, estranho não é bem-vindo.

Convivo com babá e outros empregados que a casa tiver.

Quando os meus pais chegam, já estou quase dormindo

Nem no final de semana você convive com seus pais?

Não. Mamãe, no final de semana faz palestra ou plantão.

Meu pai, longa viagem de negócios para ter ainda mais

Dinheiro, lucro ou um faturamento de grande proporção.

E se meu pai conversar com o seu, a gente poderá brincar?

Meu pai alegará falta de tempo ao encontro, quer apostar?

Assim as coisas comigo vão permanecer do jeito que estão.

Vá embora. A babá está vindo. Lembre-se do que lhe falei.

Obrigado por conversar comigo. Sempre grato a você serei.

Vou embora só para não complicar ainda mais sua situação.

CAPÍTULO VIII – VOLTANDO AO PAI

O filho volta triste. Diz o porquê do menino está chorando.

Nós não podemos fazer nada, pai. O pai do menino não quer

Nenhuma pessoa estranha na mansão. Assim, está evitando

Que aconteça sequestro ou um assalto lá. É melhor precaver...

Hoje não dá. Mas ainda vou conversar com o pai desse menino.

Pai, a estória do menino rico é bem mais triste do que a minha.

Você é triste por quê? O amor de sua mãe por você é mofino?

Em que, filho, você se baseia para ter essa tese tão mesquinha?

Papai, todo dia mamãe faz elogio aos meus amigos, a mim não.

O que dizer da criança doente e da cadeirante que vimos então?

Elas estavam felizes porque receberam elogios de alguém da rua?

O menino rico da mansão chorava é por que ninguém o elogiou?

Você fez muitos elogios a ele para começar a conversa, notou?

Á casa, aos brinquedos e ao celular dele. Qual era intenção sua?

CAPÍTULO IX - AUTORREFLEXÃO

Por não o conhecer, pai, fiz elogios para mostrá-lo que sou de paz.

Assim confiou em mim e me disse o motivo do choro e da tristeza.

Sua resposta lhe dá condição de entender os elogios que a mãe faz

Aos seus amigos, não é à toa; tem um outro objetivo com certeza.

O senhor tem razão, pai! Mamãe quer meus amigos próximo dela

E a confiança deles. Você lembra do que você fez ao menino rico?

Eu acreditando que era feio por fora... a minha aparência é bela!...

Na verdade, sou feio por dentro. Perdoa-me, pai, eu lhe suplico.

Meu filho, você é tão bonito por fora quanto por dentro. Acredite.

O que você tem é uma crise de ciúme. O que é isso, pai? Explicite.

Ciúme é o medo de perder algo que tem e que possui muito valor.

No mundo material valor é preço. No campo dos sentimentos não.

Se tivesse que escolher, com quem ficaria? Responda com coração.

Seus amigos que mamãe elogia ou sua mãe, causa do seu torpor?

CAPÍTULO X – FAMÍLIA FELIZ

Com a mamãe, claro, mas me doeria muito em fazer tal escolha.

Vou lhe contar um segredo: já tive ciúmes de sua mãe também.

Como se livrou desse chato sentimento que nos deixou na rolha?

Plantei em mim outro sentimento, a confiança, para viver bem.

Pai, então vou confiar que a mamãe não me deixará de amar.

Pode ter certeza, meu filho, de que isso jamais irá acontecer.

Tanto por parte da mamãe quanto por mim. Pode acreditar!

Quanto ao perdão que me pediu, agora está apto para receber.

Ao ouvir tais palavras com ternura, o filho abraça seu pai.

Quando chegar em casa, vai pedir desculpas à mamãe, vai?!

Não só desculpa, como darei também um beijo e um abraço.

Vamos para casa, porque a mamãe já deve estar chegando.

Mal chegou ao lar, a mãe dois beijos e abraços foi ganhando

A mesma retribuiu o filho e o esposo sem nenhum embaraço.

CAPÍTULO XI- A SEGUNDA OPÇÃO

Queridos, depois da lavação de roupa ontem e tudo que foi dito

Fiquei com o coração entristecido por causa do menino rico e só.

Como podemos ajudá-lo sem com a família dele criar algum atrito?

A história desse garoto abastado, infeliz, causa-me um grande dó.

Façamos o seguinte: eu e nosso filho vamos ao pai empresário

Você vai conversar com a médica mãe do garoto, Combinado?!

Nossa fala tem que ser uníssona. O filho deles vive triste, solitário,

e mesmo vivendo numa mansão, sente-se um menor abandonado.

Com desculpas vamos ao local do trabalho deles. Tudo contemos.

para sermos enxotados ou sermos compreendidos nos preparemos

Tomara que aconteça a segunda opção, querido. Amém? Amém!

Nas conversas com os pais cada um no seu canto chorou seu tanto.

Como se tivesse combinado disseram: céus, meu filho em pranto!...

Não mais serei relapso(a)! Meu tempo será do meu filho também

O FILHO DA POETISA

Filho da Poetisa
Enviado por Filho da Poetisa em 03/10/2020
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