Bilac, em Penetralia

PENETRALIA (**)

Falei tanto de amor!... de galanteio,

Vaidade e brinco, passatempo e graça,

Ou desejo fugaz, que brilha e passa

No relâmpago breve com que veio...

O verdadeiro amor, honra ou desgraça,

Gozo ou suplício, no íntimo fechei-o:

Nunca o entreguei ao público recreio,

Nunca o expus indiscreto ao sol da praça.

Não proclamei os nomes, que, baixinho,

Rezava... E ainda hoje, tímido, mergulho

Em funda sombra o meu melhor carinho.

Quando amo, amo e deliro sem barulho;

E, quando sofro, calo-me, e definho

Na ventura infeliz do meu orgulho.

Bilac
Enviado por Paulo Miranda em 02/10/2020
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