Há rígidos grilhões em meu pescoço,
Há rígidos grilhões em meu pescoço,
que me roubam a fala todo dia.
Eu assim fui criança e assim sou moço —
um silente cativo à cobardia.
Pequeno, meu andar era insosso,
e minha tenra língua, fugidia.
De algo maior cresci sendo um esboço —
de algo menor eu sou alegoria.
Minha alma, quando vibra pela voz,
encontra no pescoço essa corrente,
ferindo minha carne antes da algoz —
pois volta para o estômago, doente,
deixando um rastro leso por feroz,
revel à vida e dela mais descrente.
29/9/2020