TRILHA XII - SOLIDÃO - RITMO: GAITA GALEGA
** *SOLIDÃO* ***
Preso aos lençóis amassados na cama,
A companhia usual do seu dia,
Vivia só, revirando o seu drama
Pelo silêncio do quarto em fobia.
Mudo e sozinho, seu corpo reclama
Sua carência de vida em magia,
Precipitado ao julgar-se na lama
Sem ter ninguém pra reger euforia.
A solidão, na saudade de amar,
É dor na paz e tristeza letal
Dilacerante em ausência vulgar.
Usa e deprime qualquer ser normal,
Cessa o prazer de viver sem chorar,
Tira da fuga, o motivo mortal...
*Plácido Amaral*
*** *MEU CASTELO* ***
A madrugada desnuda o flagelo
de um coração machucado, à deriva
na imensidão da saudade que aviva
os panoramas de um sonho singelo.
Enquanto a dor me importuna, opressiva,
sobre o sinistro negrume pincelo
meu desespero e desenho o castelo
onde, sorrindo, a princesa cativa.
Sem refrigério, distantes das cores
esparramadas no rútilo abrigo
definhariam suspiros carentes.
Da solidão desafio os rigores
quando te busco e consinto o perigo
de delirar sem saber o que sentes.
*Jerson Brito*
*** *CALVÁRIO* ***
Aquele sonho distante, impossível...
Consolidado em puríssimo arpejo,
É palpitante esse ardor, um desejo,
Vai dominando em fascínio legível.
Transfigurado e sofrendo, cotejo,
Que meu sofrer, um castigo punível...
Tem que sentir, e torna-se, sensível,
Quem sabe, ver, da maneira que vejo.
Por um alguém, tremulando em compassos...
Sonhei com ela despida nos braços,
Entrelaçados, ardente paixão.
Mas meu desejo guardei em segredo
Foi covardia? quem sabe por medo...
Esse calvário me traz solidão.
*Douglas Alfonso*
*** *CURANDO A SOLIDÃO* ***
Meu coração lastimoso derrama,
Na madrugada, paixão recorrente,
Aprisionado, febril, reticente,
Num marulhar de emoções que me infama!
Nessa clausura, a saudade reclama
Tua presença, e a minh'alma carente,
A te buscar, solitária, querente,
Na vastidão do desejo, te chama!
Acorrentada em lembranças, me entrego;
Sofro calada, te amando, e não nego,
Minha ledice em fazer-te expressão,
Num panorama crescente de ardor,
A recordar do carinho o esplendor;
Para curar essa atroz solidão.
*Aila Brito*
*** *DESERTO* ***
A solidão concentrada no peito
Como a semente de mil toneladas,
Brota sonora em constantes baladas,
Rege a agonia de morte no leito...
Pobre de quem sensações abafadas
Sente, deveras, matando o perfeito
Riso, e a mordaça de causa e de efeito
Traz a tristura em visões desoladas...
A solidão assombrosa e feroz
Torna doente o orgulhoso de voz,
Íntimo ser, coração de hospital,
Sofre em silêncio os açoites do algoz;
Não raramente, no afago veloz
Da companhia sonhada, afinal.
*Ricardo Camacho*
*** *SOZINHA NO ABISMO* ***
Sinto o silêncio que trava o destino
Intensifica a saudade pungente
A solidão atormenta o que atino
E a situação esmorece o ambiente
Anoiteceu no elevado, e imagino,
felicidade se foi tristemente,
e necessito do amor cristalino,
mas a intenção se afogou na nascente!
E este soneto parece que grita,
na compulsão de uma dor infinita,
vou semeando a emoção do lirismo...
Ansiosamente procuro a alegria,
vem a certeza, violenta e sombria:
Eternamente sozinha no abismo!
*Janete Sales Dany*
*** *A BOA SOLIDÃO* ***
A solidão que me fez mergulhar
Profundamente no mar do meu ser.
Dentro de mim encontrei um olhar
E o coração se fez brasa a aquecer.
Nesse silêncio eu passei a escutar
Águas tranquilas da fonte a descer,
Silenciosa canção a tocar.
A solidão apressou-se em tecer.
Ele esperava fielmente a minha alma
Que nesse encontro por fim se prostrou
Para abraçar a ternura que acalma.
A solidão profundíssima e vasta
Me fez provar do licor e mostrou
Que Deus é tudo e por isso me basta!
*Luciano Dídimo*
*** *SETEMBRO AMARELO* ***
Encarcerado, em sombria masmorra,
Com depressão instaurada na mente;
De corpo são, mas o tino, doente,
Solicitando que o invólucro morra.
Na solidão, sem alguém que o socorra,
E a mão amiga lhe estenda, e o alente,
Em muitos casos, tem sido frequente,
Que o solitário ao suicídio recorra.
Sozinho, o lobo procura a alcateia,
Também os homens persistem na ideia
De agrupamentos visando afeição.
Os eremitas estão adaptados...
Já os Poetas se encontram listados
No rol, nefando, da atroz solidão.
*José Rodrigues Filho*