NONAGENÁRIO
NONAGENÁRIO
Espero morrer quando já for tarde
E a angústia de viver ter me deixado.
Sem futuro, presente nem passado,
Existir sem fazer qualquer alarde.
Dos moços e da fúria que lhes arde
Sorrir condescendente e aparvalhado,
Como apenas um velho desbocado,
De quem ninguém enfim mais nada aguarde.
Feliz tão-só em ver a luz do dia
Encontre entre a loucura e a fantasia
Um verso que sequer possa escrever.
E diante do espetáculo da vida
Entenda a vanidade já vivida
N'uma autoaceitação só de prazer.
Betim - 23 08 2020.