DISFORIA

DISFORIA

Obcecado em não ser. talvez eu seja

O inverso de quem sou e não serei...

Ou queira-me valete -- não mais rei! --

Ou queira-me quem outrem me deseja.

Se quem passa e me vê logo graceja,

Pensando-me sujeito à sua lei,

Outra excentricidade eu lhe tornei.

Como se no seu bolo uma cereja.

Não. Quero muito mais do que agradar.

Eu quero querer ser; eu quero estar.

E a alheia insensatez nada me diz.

Mas me vejo em extrema disforia

À espera da improvável euforia

De, ao ser quem me desejo, mais feliz.

Betim - 20 08 2020