CONTEMPLAÇÃO - Carlyle Martins

Sempre a existência é calma nesta vila,

onde os dias parecem ser mais lentos,

toda paisagem mostra-se tranquila,

sem vislumbres de queixas e tormentos.

Ao longe a serra, aberta em flor, se anila,

envolvida em lençóis longos, cinzentos...

O gado passa, em demorada fila,

a mugir em tristíssimos lamentos.

Rincão de sonho e paz, nele consigo

versos fazer a certo amor antigo,

que floresceu em minha mocidade.

E quando a noite vem, calma e sombria,

diante do céu, minha alma se extasia,

lembrando os dias idos, com saudade.

© Carlyle Martins

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Carlyle de Figueiredo Martins (Fortaleza, 16 de junho de 1899 - Fortaleza, 2 de fevereiro de 1986) Formado pela Faculdade de Direito do Ceará, em 1925, foi representante do Ministério Público, juiz municipal e juiz de Direito em várias cidades do interior cearense.

Sobrinho dos poetas Antônio Martins (poeta da abolição) e Álvaro Martins (Policarpo Estouro, da Padaria Espiritual), era crítico literário e poeta parnasiano que, segundo Raimundo Girão, apresentava um "lirismo enternecedor". Colaborava constantemente com jornais e revistas do estado e de outros centros do país. Teve uma grande produção literária cujas principais obras são: Evangelho do sonho, 1931; Caminho deserto, 1934; Colheita de rosas, 1938; Ânfora de estrelas, 1940; Antônio Martins (um grande abolicionista), 1953; Na serra, 1956; Paisagens do meu destino, 1957; Sinfonia do entardecer, 1966; Mensagem das horas tardias, 1972; e Alma rude (contos regionais), 1960. Participou da criação da Associação Profissional dos Escritores do Ceará.

Ingressou na Academia Cearense de Letras no dia 15 de agosto de 1951 ocupando a cadeira número 25, cujo patrono é o escritor cearense Oliveira Paiva. Foi saudado pelo acadêmico Andrade Furtado.