O SUGADOR DE SONHOS

Enterra, o carcará, cortante garra

nas minhas carnes sem clemência alguma,

mas seu intento infame não consuma,

não alimenta o abismo da bocarra.

Bradeja, mesmo langue, em algazarra,

a sentinela enquanto o bicho espuma;

no peito importunado se avoluma

um arsenal e nele a fúria esbarra.

A guardiã rechaça o algoz astuto,

meus braços revigora, em mim desperta

aquele lutador que ainda existe.

Com fome, envergonhado e diminuto,

o sugador de sonhos me liberta

quando a esperança vê, de novo, em riste.