SONETO EMPÍRICO
Morrer é só não ser visto.
Fernando Pessoa
Morres -- logo testas essa tese
Cruzando, temerário, as fronteiras
Do mundo -- partir, queiras, não o queiras,
Ao que a ignore, ao crente que ainda reze
É suprema lei -- que mais não pese
Ao cínico... As respostas ligeiras
Bastarão pra sempre? É que já cheiras
A terra, negando ou pura ascese.
Veremos, tão logo o sol se ponha
Sobre o que se quis baço paraíso
E tão nosso em nossa dor medonha.
Sem mais luz ao passo, se preciso
Desdenhes da angústia e da vergonha,
Leves não lamúria mas sorriso.
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