SONETO QUE PASSA
Descansa dessa vida quem tem sorte,
Adentra a luz dum vir a ser supremo
E a paz do que em si mesmo encontra o norte
Final cantando o seu refrão 'Não temo!'.
Na dor de mais durar, se fraco ou forte,
Além do justo é o erro crasso, extremo --
Migalha a quem tão pouco tanto importe
Negando a sorte ao deus, negando ao demo...
O inverno agora a meio avança e em tudo
Austero fere o signo do que passa
Enquanto de si mesmo diz 'Não mudo!'.
À margem desse rio no qual vamos,
Já, todos, toda glória há muito escassa,
Uns múrmuros, uns pios sombrios nuns ramos...
.